Crônicas de Mamute - CAPÍTULO 1
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CAPÍTULO 1
O ano: 2017. O mundo era um lugar tranquilo. Ou o que pudesse ser chamado de tranquilo. A melhor palavra talvez seja INTEIRO; com todos os continentes e paisagens no seu devido lugar. Todos os países ainda existiam; os Estados Unidos ainda dominavam e o Brasil prosperava, apesar da luta intensa contra a corrupção. A política mundial de cuidado com a natureza nunca fora tão forte. Era um planeta que dava sinais de melhora. De salvação. Até aquele momento.
Era inverno e fazia muito frio no interior do estado do Paraná. Inácio passeava com seu neto de 10 anos pela enorme fazenda. Ele era o dono da maior indústria produtora de leite da América do Sul. Inácio ainda não se sentia velho, e nem deveria, pois estava chegando à casa dos 60 e ainda tinha muito vigor. Seu único filho morrera no último inverno, em um acidente de carro que ele mesmo provocara. Era duro admitir, mas seu filho jamais foi um exemplo a ser seguido. O acidente ainda vitimou sua nora, a quem Inácio depositava confiança de que pudesse fazer do filho um ser humano melhor. A criança só escapou por que estava passando férias na fazenda.
Inácio ficou viúvo muito cedo, então o neto era seu único motivo de afeição. Queria dar a ele tudo o que não dera ao filho, e isso se resumia a carinho e atenção. Como era um dos empresários mais ricos do planeta, podia dispor de empregados para cuidar dos negócios e assim dar mais atenção ao neto. Logo o instruiria na luta de boxe. “A última luta de cavalheiros”, como costumava dizer. Mas isso podia esperar. Por enquanto eles se divertiam com charadas e caças ao tesouro. Era melhor deixar assim por enquanto. Mais tarde também trataria dos assuntos escolares, mas para o que não pudesse ensinar pessoalmente, contrataria tutores para fazê-lo. "Sempre com paciência. Tudo na sua hora" era o que sempre dizia e assim construiu seu império.
Uma vez por mês ia visitar sua empresas e passava uma semana envolvido com isso e fazia questão de que o neto começasse a perceber o que o futuro lhe aguardaria. Nesses dias de trabalho, avô e neto costumavam passear nas cidades durante a noite. Curitiba era sua cidade favorita. As luzes, a natureza... Tudo chamava a atenção dos dois, mas o que lhes dava maior prazer era ficar no Jardim Botânico depois que o parque fechava, prazer possível somente graças aos contatos que Inácio possuía.
***
À medida que os anos iam passando, Marcus ia crescendo e se tornando um jovem interessante. Lutava boxe, já falava alguns idiomas, era culto e herdeiro de uma fortuna incalculável. Apesar de lutar, não participava de competições oficiais. Ele compartilhava da opinião do avô Inácio de que até o esporte fora corrompido pela ganância e corrupção. Ao invés de participar desses torneios, Marcus juntava alguns lutadores sérios e fazia seu próprio torneio secreto. Não era raro aparecer com o rosto machucado nas reuniões de diretoria em que ainda frequentava com o avô.
Apesar disso, não era uma pessoa muito popular. Se mantinha sempre discreto e raramente frequentava eventos sociais. E isso não tinha muito do avô, que o incitava a interagir o máximo possível, mas Marcus se mostrava relutante e, quando era inevitável estava sempre com a cara fechada. Na melhor descrição machadiana: estava se tornando um casmurro.