EDGAR RODRIGUES

ENTRE DITADURAS

Nelson Marzullo Tangerini

Escolhi o título “Entre ditaduras” para homenagear o escritor e historiador anarquista português Edgar Rodrigues [António Francisco Correia], um sério inimigo de todas as ditaduras – religiosas, de direita e de esquerda.

O momento é propício: viúvas de Marx, Lênin, Stálin, Mussolini, Franco, Salazar, Hitler, Médici, Videla, Strossner, Somoza, Enver Hoxha, entre outros criminosos, rezam para que seus ídolos se levantem das sepulturas, para oprimir a Humanidade.

Todos esses sádicos idólatras sabem muito bem o que aconteceu nesses regimes fascistas, autoritários e criminosos. Ninguém era um ingênuo propagandista. Traziam dentro de si a má índole, a dureza, a frieza, o autoritarismo. O discurso deles é o mesmo para qualquer situação – para a esquerda, para a direita, para a religião: “Este país só se conserta com uma ditadura”. E ninguém se preocupa em saber que o caminho para o respeito mútuo é a educação libertária, livre de todos os dogmas.

Convivi com Edgar Rodrigues. Admirei-o. E ,em algumas momentos, discordei do anarquista, que, em sua vida de militante, publicou mais de 50 livros sobre o movimento operário.

Queria falar sobre o policiamento, neste momento em que termino de ler o livro Vozes de Tchernóbli, a história oral do desastre nuclear, da Prêmio Nobel, Svetlana Aleksiévitch, Editora Companhia das Letras. Porque tudo o que eu falei, aos meus amigos e aos meus inimigos, na Faculdade de Comunicação-Jornalismo Hélio Alonso e no Sindicato dos Escritores do RJ, estava correto: a União Soviética era uma mentira. E a imprensa estatal, o Pravda [atrelada ao regime comunista], ocultou do povo a explosão da usina e a exposição de seres humanos, animais e plantas à irradiação atômica.

Escrevo isto enquanto a esquerda da América do Sul chama a nossa imprensa de golpista e burguesa. Sim, ela é golpista e burguesa, mas o caminho para o futuro é uma imprensa livre, coletiva e libertária – que não seja atrelada ao estado – e que não pertença a famílias burguesas e poderosas.

Lendo este livro de Svetlana, lembrei-me de um episódio que aconteceu comigo na Cinelândia, quando fui convidado pelo Sindicato dos Escritores do RJ, para falar, num palanque, sobre não sei quantos anos do ataque americano às cidades japonesas Iroshima e Nagazaki. Ali, falei sobre o ataque terrorista ao Japão. Fui aplaudido. Mas fui vaiado, quando falei de Tchernóbil. Porque, em Tchernóbil, a irradiação era marxista. Muitos, depois, vinham me dizer que meu discurso era de direita. Ou que Tchernóbil nada tinha a ver com o ataque ao Japão.

Dali para diante, fui obrigado a me afastar de muita gente que me criticava pela frente ou por trás – gente que me rotulava de direita e não via a União Soviética como uma nação imperialista, tão imperialista quanto os EUA.

E, a partir daí, passei a admirar o velho anarquista Edgar Rodrigues, que tantas vezes, em seus escritos, combateu o imperialismo, o fanatismo religioso, a idolatria e as armas – comuns e de destruição em massa.

Termino estas “mal traçadas linhas” com as mesmas palavras com as quais finalizava suas crônicas: “Diga NÃO à violência!”

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Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 21/08/2016
Reeditado em 22/08/2016
Código do texto: T5734899
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