Sobre coxinhas, mortadelas e caviares

Pena que certamente este texto não chegará jamais à grande mídia. Mas vamos lá assim mesmo.

Recentemente dividiram-nos em dois grandes grupos: os “coxinhas” e os “mortadelas”, devido às posições políticas que foram tomadas. Os coxinhas seriam os remediados socialmente – que se viam ameaçados – e os mortadelas seriam aqueles que brigavam para não perder o pouco que haviam ganho; se é que haviam ganho algo.

Assim, divididos, ambos os grupos cegos pela alienação, pela desinformação (ou pela informação parcial), não viram que se tornaram massa de manobra de um terceiro grupo: os caviares. Este grupo, visando apenas aos próprios interesses, manipulou a opinião pública e se aliou (ou aliciou?), ao judiciário, ao legislativo, aos grandes empresários e hipocritamente e funestamente alcançou seus objetivos.

Agora, coxinhas e mortadelas que antes degladiavam-se, ofendiam-se, insultavam-se farão parte do mesmo cesto de lixo a ser usado pelos caviares. Todos sofrerão as consequências da alienação provocada e aceita. Todos serão mais explorados e expropriados de seus direitos mais elementares. Não quero dizer com isso que a situação estivesse confortável, porque de fato não estava; porém a democracia nos fornece meios de exercer e cobrar nossos direitos sem que haja usurpação de poder.

Preparemo-nos para dias mais sombrios. Preparemo-nos para o fatiamento do país (que já começou). Preparemo-nos para um Estado privatizante e privatizado. Preparemo-nos para o cerceamento da liberdade de cátedra. Preparemo-nos para a permissividade legal diante dos que se ligam ao poder e para o endurecimento frente aos que se opuserem.

Por que coxinhas e mortadelas – de acordo com o desejo dos caviares – deverão se aposentar após os 70 anos de idade e mais de 30 ou 35 trabalhados, se eles – os caviares – não precisam nem de 10 anos? Por que os salários da imensa maioria dos coxinhas e mortadelas são tão baixos e os caviares remuneram-se com valores astronômicos mais os benefícios, no mínimo desnecessários e mais o que é roubado pela corrupção? Por que quem rouba para alimentar, por exemplo, sofre nos cárceres imundos de nosso sistema prisional e quem expatria o país sai ileso de seus atos ilícitos? Por que os setores públicos essenciais: educação, saúde, segurança estão absolutamente abandonados e provavelmente receberão agora sua última pá de cal? Lembrei agora das músicas “Aluga-se”, do genial Raul Seixas (eu só trocaria o verbo para “vende-se”) e “Que país é este?”, do não menos genial Legião Urbana. Será que agora surgirão artistas e celebridades de coragem e talento como em outras épocas de nossa história?

É! Tanto coxinhas quanto mortadelas estavam errados! Acabaram fazendo o que os caviares queriam. Separaram-se e foram conquistados, dominados e agora serão escravizados à maneira do capital. É preciso que coxinhas e mortadelas sejam indigestos aos caviares para que alguma nuance de esperança seja visível. Mas será que têm força para isso?

Infelizmente, vejo coxinhas e mortadelas como os animais de “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, que se submetem ao comando dos porcos e depois estes estão dividindo/negociando negociatas na mesma mesa em que os humanos.

Por sorte nossa, a sabedoria Divina fez com que as coisas da vida ocorressem de forma cíclica e não em tortas linhas retas. Portanto, cabe-nos aprender as lições e lutar a fim de que as mudanças necessárias venham com os ventos da esperança.

Cícero Carlos Lopes – 31-08-2016

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 31/08/2016
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