Imagem da Web

20 de setembro

"Gaúcho eu sou, nasci feliz...
Nessa terra formosa onde estou
Sob o céu desse lindo país..."
Ressoam versos em meu pensamento desde sempre, adolesci ouvindo essa canção...
Internalizei: sou gaúcha, sou feliz nessa terra formosa, sob o céu do Brasil...
 As condições econômicas e sociais, em que tais concepções se cristalizaram em mim, no entanto, desfavoreceram uma efetiva participação na cultura gaúcha tradicionalista... criança de periferia não tinha acesso a essa cultura.
 Não se trata de um lamento, é uma constatação, não tivemos oportunidade para tanto.  

A memória, porém, faísca ao relembrar do primeiro dia em que pisei no Centro de Tradições Gaúchas - CTG... devia cursar o 4º ou 5º ano primário, quando uma querida professora, nos levou para conhecer
o galpão crioulo próximo à Escola. Nossos olhos brilharam, ouvimos canções e até arriscamos alguns passos, o Pezinho e o Xote Carreirinha... Foi um sonho, lindo sonho... (Estranho! Eu não possuía, nunca tive vestido de prenda, mas em minha fantasiosa e criativa memória, ao recordar eu me enxergo vestindo um...)

É 20 de Setembro novamente, olhando para a História Farroupilha, não sei se temos muito a comemorar, não entrarei nos meandros históricos, apenas superficialmente, desejo discorrer sobre algumas ideias que me vêm no momento... por exemplo, hoje sei que o refrão citado anteriormente, é autoria de José Claudio Machado, na Canção do Gaúcho... sei que não basta nascer no Rio Grande do Sul para denominar-se gaúcho, gaúcha, será? Ou, ao menos, é o que tentam nos convencer, através de certas postagens que vejo no Facebook, como: "eu não sou gaúcho de setembro, eu sou tradicionalista", ou "gaúcho de araque, aparece uma vez por ano" será?

Tenho me perguntado se realmente essas postagens representam o pensamento da maioria dos tradicionalistas... tenho me perguntado se conhecemos a realidade do povo gaúcho, se conhecemos as razões pelas quais algumas pessoas não participam ativamente das tradições gaúchas... será que ainda hoje, pelos recantos desse rincão, não encontramos prendinhas a sonhar-se vestida de chita, rodopiando pelos galpões de sua imaginação, embora de fato não o possa fazer? 

Se alguém afirma que o Rio Grande é daqueles que se caracterizam e participam ativamente da cultura tradicionalista, sinto muito desapontar. Há que rever-se inclusive os princípios democráticos cultuados no Rio Grande, há que se repensar, se a roupa define o caráter, os sentimentos e os valores gaúchos...
Tenho cá minhas dúvidas, especialmente, após o que presenciei no Desfile Farroupilha... vi gaúcho bem pilchado espancar animal na avenida, vi outro peão de igual rigor na vestimenta, ingerindo bebida alcoolica ao conduzir veículo e, vi belas jovens caracterizadas de prendas, debochar das prendas de outro galpão...

Ah, vi tantas coisas...
Vi entre arreios e botas, nossas mazelas expostas
Vi entre vestidos e bombachas, o bailar da nossa ignorância
Vi entre chapéus e lenços a balançar no vento, chulos pensamentos
Vi entre potro e cavalo redomão, o quanto há de chucro em nosso coração...
Somos aprendizes da alma gaudéria... aprender sempre!
Aprender a ver na alma gaúcha, além das tradições, o desfilar da esperança... então,
Veremos o desabrochar das flores em outra estação e, 
Ouviremos o toque de gaita e a sintonia de vozes numa só canção, 
Um 20 de setembro com o sonho da verdadeira revolução,
A revolução do afeto, feito a cuia de chimarrão, passando de mão em mão...




 
Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 20/09/2016
Reeditado em 21/09/2016
Código do texto: T5767209
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.