Sem palavras

Nunca pensei que isto fosse acontecer comigo.

Vi várias pessoas reclamarem deste mal que vez ou outra acomete mente e coração, deixando-os inertes.

Agora entendo esta angústia. Não há muito o que fazer.

Mas como ser paciente, como controlar a ansiedade, se dentro de nós incomoda esse desejo de contar história,

de falar dos casos da vida?

Por horas estive à frente da tela de meu computador, e não me veio a mínima inspiração. Achei que minha inibição fosse provocada por esse descendente eletrônico do ábaco, e então debruçei-me sobre a mesa, munido de papel e pena, como outrora se fazia.

Inocente ilusão.

As palavras se foram, sem deixar rastros, o que é pior.

Onde encontrá-las?

Procurei-as nas gavetas de minha memória, recorri ao baú de minhas lembranças, mas sem sucesso.

E quanto aos acontecimentos presentes?

Estes devem estar ainda vivos! Sobre eles será mais fácil falar.

Dei os primeiros passos, parei... Não, não é isso que eu queria dizer!

Lá se foi a folha amassada ao cesto!

Descobri não ser boa idéia falar sobre os fatos presentes, eles ainda estão demasiado vivos, até demais!

Voltei à estaca zero!

Muitas vezes aceitar a condição atual é a melhor saída!

Decidi, pois, aceitá-la. Decidi esperar.

Mas isso não se trata de submissão.

Não viverei eternamente neste estado!

Talvez as palavras não me queiram agora a companhia.

Talvez elas não queiram dividir-me com o meu atual silêncio.