Incidente em feira de negócios

Adoro feiras...

Não falo daquelas semanais nos bairros onde o pessoal arruma as frutas em pirâmides, desafiando a lei da gravidade. Também curto essas, mas como observador e usuário, não como participante. (não tem nada melhor do que o pastel com caldo de cana da feira de Sto Amaro SP).

Falo de feira de negócios, aquelas aonde a gente vai pra mostrar nosso produtos e tentar vender alguma coisa.

É um barato total, você se sente participante de um circo, monta estande, faz a arrumação, expõe produtos, desmonta tudo, carrega pra fora porque tem que desocupar o pavilhão rápido, realmente, só quem participou dessa experiência pode imaginar como é gostoso.

A camaradagem e a solidariedade na arrumação e na montagem dos estandes, todo mundo ajudando todo mundo, é um tal de emprestar alicate, fita gomada, cola, fio de nylon, a corrida atrás do eletricista pra instalar mais uma tomada ou uma lâmpada, as disputas por melhor posicionamento no estande, tudo isso constitui uma loucura que pode-se chamar “o espírito da feira”.

Depois de participar de algumas, você começa a identificar o visitante dentro de um padrão, normalmente invariável.

Tem o colecionador de folhetos, aquele cara que percorre todos os estandes e cata todo papel impresso que encontra, põe numa sacola e no fim da feira aquilo tá pesado pra caramba mas ele sai feliz do dever cumprido... Nunca entendi e gostaria de saber que diabos ele faz com aquela papelama toda quando chega em casa.

Tem o bicão, fominha, percorre igualmente todo o evento, mas aí o objetivo é outro: comer tudo o que for possível e beber a maior quantidade de cafezinhos e sucos que puder. Esse sai empanzinado, mas igualmente feliz.

Outro personagem invariável, é o curioso. Sempre exponho máquinas ou equipamentos e o curioso quer saber tudo, todas as informações possíveis e impossíveis, sobre cada uma peça exposta. Como opera quanto gasta de energia, quantos artigos produz por hora, qual o treinamento do operador. Quando vc pensa que fez uma venda, ele agradece as explicações, pede o seu cartão e vai para o estande vizinho, começar tudo de novo.

Nunca esqueci uma feira que participei numa cidade do interior, quando eu representava uma empresa que fabricava máquinas de fazer batatas fritas do tipo hoje conhecidos como chips, naquele tempo era batata frita mesmo, em bom português. Pois é, chegamos arrumamos o estande, montamos a bendita da máquina que precisava de um botijão de gás, pra ferver o óleo, negocio bem mercado informal mesmo. Vizinho ao nosso, instalou-se uma confecção de calças jeans. Até ai tudo bem, embora os setores ficassem meio misturados e o nosso cheiro de fritura talvez atrapalhasse um pouco os negócios do moço, nada estranho aconteceu e convivemos pacificamente.

Os problemas começaram no segundo dia, quando o representante de uma conhecida marca de cachaça armou o barraco dele e o moço das calças jeans ficou no meio de nós dois.

Quando chegou à noite, nós resolvemos fazer demonstração da nossa máquina e como eu também vendia uma seladora de sacos plásticos, resolvemos fazer os chips e embalar em pequenos saquinhos pra distribuir entre os visitantes do estande. Lembra que eu falei que um dos tipos de freqüentadores de feiras é o bicão fominha e quando começamos a distribuir as batatinhas, formou-se uma fila na frente do nosso estande. A cidade tinha bicões demais... Até ai tudo ainda sob controle. Então, o cara da cachaça resolveu fazer o mesmo e começou a distribuir copinhos de cachaça, igualmente, entre os freqüentadores.

Ai você já viu né? A fila foi engrossando e os pinguços passavam na cachaça e vinham com o copinho na mão pegar nossas batatinhas e voltavam para a cachaça pra outro copinho e vinham para o nosso estande pegar as batatinhas. Um circulo vicioso...

No inicio isso era feito com uma certa disciplina, mas depois de alguns copinhos, o negocio degenerou e como a menor distancia entre dois pontos é sempre uma reta, passaram a cruzar direto por dentro do estande das calças jeans. No começo o moço ainda levou na esportiva, mas à medida que a cachaça ia subindo pra cabeça do pessoal, começaram a derrubar as prateleiras e a desmontar o estande do homem, na pressa de pegar o saquinho de batatas e voltar pra pegar mais cachaça. O responsável pela feira veio correndo e nos pediu: -pelo amor de Deus, parem com essas batatinhas porque o cara da cachaça garantiu que se vocês pararem ele também para, estão demolindo o estande da confecção e o moço de lá falou que vai começar a atirar daqui a pouco.

Paramos, desligamos o fogo e a grita foi geral. Quase apanhamos dos pinguços. Terminamos a feira sem vender uma máquina. Acho que foi praga...

ZéCarlos
Enviado por ZéCarlos em 09/10/2005
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