Barbarie

Ninguém de sã consciência aprova as barbáries cometidas nas prisões brasileiras, todos os dias. Mas todos sabemos ou imaginamos o desumano tratamento dispensado aos detentos, a começar pela superlotação. Porque, então, nos surpreendeu os horrores de Manaus e Boa Vista, se com eles contribuímos com o nosso silêncio e indiferença para com o cotidiano nos presídios?

O que aconteceu era previsível. Surpresa agora soa como hipocrisia.

O ocorrido nos choca? Sim, nos choca! Mas só a forma cruel como praticada a chacina.

As mortes em si não podemos lamentar. Eu não lamento!

Entre vítimas e algozes não havia nenhum cidadão de bem. Eram todos bandidos da maior periculosidade. Assassinos matando assassinos.

Lamentar por quem? Na verdade, e isso me é custoso admitir, até senti um certo alívio em saber definitivamente fora de circulação quase uma centena de indivíduos cujos atos pretéritos indicavam ausência do caráter humano.

Agora as instituições de sempre, que deveriam defender os direitos dos verdadeiramente humanos, se arvoram na defesa desses bandidos.

Lamento que seja assim. Que essas pessoas não hajam preventivamente em favor desses seres, diligenciando para evitar ocorrências tais, defendendo os direitos à vida e à dignidade que julgam ser merecedores facínoras de tal quilate.

Mas não, preferem aparecer apenas depois de ocorrida a tragédia. Talvez essa preferência seja por conta dos holofotes que se acendem para iluminar a cena, lhes dando a chance de subir ao palco e virar personagem.

Uma pena as tardias atitudes. Pena ter acontecido o que aconteceu e como aconteceu mas, como dizia Millôr:

"E tudo vai passar,

Como passaram Cesar, Brutus, Tito, Baltazar,

Todo grande homem,

Falso ou verdadeiro.

Mas isso só lá pro fim do ano.

Inda estamos em janeiro".

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 13/01/2017
Reeditado em 14/01/2017
Código do texto: T5880855
Classificação de conteúdo: seguro