Perdão para o Dalton Trevisan

Cissa de Oliveira

Atenção meninas e meninos do grupo Scripto de Literatura: decididamente, fora o sucesso literário, a melhor notícia sobre o Dalton Trevisan foi saber que ele é dono de uma fábrica de vidros. Pensem: vidro, transparência. Vai ver, é para compensar o fato de não gostar de se expor. Foi uma desculpa – é preciso? – que o escritor arranjou para o fato de ser tão discreto.

Discreto é apelido. Como diriam os mais afoitos: "arisco". Não sei, hoje e aqui nesse exato momento e texto eu poderia arranjar mil álibis para o "Vampiro de Curitiba". Coisas do tipo: "apareça muito e proteja-se muito mais". É o tal problema da segurança, essa pedra no sapato de todos nós. Pois se nem defunto escapa! Não segundo o Dalton.

É Dalton, que o diga o teu conto "Uma Vela para Dario". O Dario, além de morrer foi roubado, coitado, e lentamente. Talvez, de vulnerável, ser roubado tenha sido a sua segunda morte. Também, onde já se viu andar por aí com alfinete de pérola enfiado na gravata, de paletó e aliança?

Mas cá entre nós Dalton: fostes mal com o Dario. Realista, dirias. Está bem, realista, que seja. É mesmo mais seguro ficar em casa ou sair disfarçado. Calça surrada, talvez, chinelo e camisa desabotoada, daquelas que deixam aparecendo um tufo de pêlos do peito do sujeito. Que coisa terrível! Será que lhe arrancariam os pêlos? Não... a menos que fosse o Tony Ramos, penso. Mas esse, que nem é vampiro, muito pelo contrário, também não sairia assim.

Voltando à fábrica de vidros, eu imagino a combustão, Dalton. Azulada. Não me pergunte porque não imagino uma combustão vermelha. Acho que é por causa do suspiro da areia, o ato, o jarro. Tudo num passe de mágica. Diga-me Dalton, faz-se jarro de vidro na tua fábrica? Se sim, estás perdoado. Por certo se faz bibelôs, copos, vasilhames para compotas e xícaras de várias cores. Talvez se faça vidraças também, dessas que as cortinas ficam acariciando, incitadas pelo vento e elas, tais mulheres bonitas e seguras do próprio feitiço, não ligam à mínima.

Meninas e meninos do grupo Scripto, eu tenho aqui comigo que nós devemos perdoar o Dalton.

O que vocês acham?

Cissa de Oliveira
Enviado por Cissa de Oliveira em 01/08/2007
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