35. Nova Silhueta

Calisto caminhava vagarosamente através dos corredores daquele salão úmido e escuro, escutando os passos que havia dado no passado e adivinhando os que ainda estavam por vir. Em suas caminhadas, certa feita, se deparou com um largo e bem polido espelho que se apresentou a ele.

- Veja a si mesmo através de mim, garoto, e contemple a desgraça da mudança.

Calisto, curioso, não aguentou nem por um segundo aquela pulsação infame que tomara conta de seu corpo e se lançou de frente ao espelho.

O que era aquilo que via? Uma nova silhueta havia se formado, um novo brilho habitava o seu olhar, mas o garoto não sabia o que aquilo significava.

Havia se tornado uma versão melhor de si mesmo?

O que ficou para trás?

Quais partes de si foram engolidas pelo tempo?

Quais ele havia esquecido uma esquina atrás?

Assustado com as perguntas, Calisto voltou a caminhar pelo salão. Aflito, pensava seriamente sobre quem ele havia passado a ser, o que ele havia deixado de ser e no que ele se tornaria – justamente naquilo que um dia ele abominou?

Agora, medroso, Calisto já não mais era o mesmo, novamente. O vislumbre de si havia turvado a sua propriociência, e aquilo que naquele momento caminhava pelo vasto Salão do Tempo não era nada mais do que um gigantesco abismo que tragava seu passado e seu futuro para o único ponto real: para o agora – que já foi.