FALTOU A PINGA DA BOA

E o que dizer dos velórios nesses rincões do Brasil?
Lula expressou, como nunca, a sua brasilidade.
Faltou servir a pinga da boa, tradição nos interiores, sertões, e até nas capitais, que importam o costume.
Presenciei, quando eu era criança, a bebida ser servida, passando de mão em mão.
Era considerada uma deferência especial àqueles que passavam a noite fazendo companhia aos que velavam e ao morto.
Lula seguiu a tradição. Se não serviu a pinga, honrou a tradição dos velórios brasileiros contando causos, se emocionando, abraçando, beijando, chorando, até sorrindo.
Dona Marisa se revelou aos brasileiros com seu jeito doce, elegante, sua delicadeza, sua força e firmeza. Ficamos sabendo da mulher, da esposa, da mãe, avó. Da ativista e apoiadora incansável do marido. Uma representante nata brasileira.
Lula, por seu lado, recolhe-se à sua humanidade, fragilizado, e num momento de perda da estrela que iluminou a sua vida, e abraçado pelo povo. Um homem do povo no meio do povo, como ele sempre foi e quis.
Ele nunca quis ser outra coisa senão um típico brasileiro, povo.
O texto abaixo, de Jean Willis, faz contraponto às críticas sobre Lula ter se mostrado do jeito que ele é - gente, humano, brasileiro, no momento da dor indizível da companheira da vida inteira. E político. Porque nascer, viver e morrer, são determinados pelo viés político da vida e do País em que nascemos, vivemos e morremos.
Dirce Carneiro.


06/02/2017
Após ler Jean Wyllys: “Façam de meu velório um ato político”
http://www.revistaforum.com.br/2017/02/05/jean-wyllys-facam-de-me/

Deputado federal do PSOL-RJ dá o recado para quem criticou o velório de Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula. A cerimônia foi no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde o casal se conheceu e Lula foi presidente. Wyllys pede que se tudo que ocorreu com Marisa e sua família se passarem com ele, por favor, aproveitem “as mídias sociais e as novas tecnologias da comunicação para apresentar, às pessoas, uma contra-narrativa que possa levar a verdade a elas”.

Se, por acaso, e ainda exercendo algum cargo eletivo, eu morrer depois de dias numa UTI do Sírio-Libanês ou de qualquer outro hospital em que médicos vazaram dados de meu prontuário para fins de deboche em grupos de WhatsApp e sugeriram formas de matarem na mesa de cirurgia, enquanto fascistas de merda, leitores da Veja, audiência da Globonews, ignorantes motivados e outras bestas insensíveis e egoístas me insultam nas redes sociais; se, por acaso, isso acontecer, POR FAVOR TRANSFORMEM MEU VELÓRIO NUM GRANDE COMÍCIO:

Dêem fala a todas as pessoas que queiram e possam dizer que minha morte foi também fruto da violência política estimulada e disseminada por golpistas e pelos meios de comunicação que servem aos interesses das grandes corporações comerciais, banqueiros e especuladores financeiros que não conseguem conviver com a democracia, principalmente quando esta começa a se estender aos mais pobres; não sejam “discretos”, por favor, nem “compungidos” como exigem as “pessoas de bem” que odeiam homossexuais e acham que preto pobre e favelado é bandido; não cedam ao falso-moralismo burguês de quem cobra “recato” em velório enquanto insulta e deseja a minha morte apenas porque, em vida, divergi politicamente dele e de seu pensamento torto, de quem acha que velório não é lugar de política, mas faz “comício” em cada postagem sobre meu estado de saúde e sobre a minha família;

sabendo que os meios de comunicação nunca me deram espaço honesto para que eu me explicasse sobre minhas ações políticas e sobre as mentiras que inventaram contra mim, e sabendo que, antes, eles usaram todo o seu arsenal (inclusive seus sabujos que se apresentam como “jornalistas”) para me difamar e destruir minha honra e minha reputação, sabendo disso, façam, do meu velório, um enorme ato público, aproveitando as mídias sociais e as novas tecnologias da comunicação para apresentar, às pessoas, uma contra-narrativa que possa levar a verdade a elas; e se, porventura, os canalhas fascistas, as bestas motivadas, os sabujos da Veja e da Globonews e boa parte de suas audiências chegarem com o mimimi “pior que desejar a morte dele e insultá-lo é usar o velório dele como comício”, mandem-os à casa do caralho e digam a eles que só em sua (deles) moral torta – típica de hipócritas que não querem assumir seu ódio e preconceitos – um ato político pode ser pior que o ódio e a maldade deles;

se, por acaso, isso tudo acontecer comigo, como aconteceu à dona Marisa Letícia e sua família, façam como o fez Lula: façam do meu velório um ato político, pois, não são só os sabujos da imprensa e os golpistas falsamente sentidos que poderão explorar politicamente minha morte; antes deles, quem conviveu comigo e sabe que a política foi parte da minha vida (logo, será da minha morte) tem muito mais direito de fazer de meu velório um ato político contra os canalhas que me destruíram e destruíram o país; e avisem aos que vierem reclamar disso que estamos cagando para o mimimi deles e que eles não passarão!

FOTO:FERNANDO BIZERRA JR EFE - Google