Cheiro de Paz

Em minha jornada pela vida adquiri o hábito de analisar o ser humano. É impressionante a capacidade que temos de conviver com toda a espécie de sentimento e nunca perceber os paradoxos de nossas ações. Como é possível encararmos, por exemplo, a miséria do outro e não pensar em nossa própria? Sim, porque a miséria não se resume apenas na falta de dinheiro e alimento. Ela está presente em cada ato sem nenhuma caridade que praticamos. Quando falo em caridade, não falo em esmola. São coisas totalmente diferentes. A caridade representa o amor incondicional pelas criaturas. Mas o ser humano não é uma criatura, já me falaram. Claro que é! É um animal, sim, mas com a "suposta" capacidade de raciocinar. Então, a caridade é o amor e também o respeito por cada ser vivo deste planeta, a Terra, lembram? Aquele azul, bonito, que estamos destruindo aos poucos. Pois é. Já a esmola é uma espécie de obrigação para desencargo de consciência. Nada tem a ver com afeto. Tudo é um conflito, um paradoxo que se estende por toda a vida, desde que nascemos até quando estamos para expirar. Fico pensando se um dia as pessoas poderiam ter um simples momento de reflexão mais profunda e se isso poderia mudar a nossa situação. Não seria extraordinário se isso ocorresse ao mesmo tempo no mundo todo? Não seria perfeito se o homem pudesse por uma fração de segundos (talvez isso não baste, mas já seria alguma coisa) a noção de que é capaz de tornar a vida muito melhor para todos? Meu coração se acelera e um certo cheiro de paz me toma. Esta sensação é única. Vocês deveriam tentar e sentir isso. Pode ser que venha a ajudar ao longo do dia e, quem sabe, pode fazer com que cada um reflita do jeito que eu falei.

Aqui há um certo silêncio agora, só sendo quebrado pelo som do meu teclado. Tenho mil preocupações, mil tristezas que preciso encarar a cada dia, a cada instante, mas por um breve, mas precioso momento me deixo ter esta clarividência, este momento confortante. O ar que respiro tem o tal cheiro de paz. Preciso disso para continuar, para encarar o que está por vir, as surpresas contidas nesta vida. E eu continuo observando e analisando o ser humano; percebendo os atos tão conflitantes de cada um. E sempre me questionando. Nunca paro de me questionar porque se eu o fizer, paro de viver.

Rita Flôres
Enviado por Rita Flôres em 08/02/2017
Reeditado em 08/02/2017
Código do texto: T5906267
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