NÃO CONHECEMOS AS PESSOAS

Nem sempre conhecemos as pessoas – digo melhor: podemos viver tempos e tempos e nem assim conhecemos profundamente as pessoas. É como diz um velho dito popular: se vive anos e mais anos ao lado de alguém e nunca saberemos ao certo quem ela é. Agora imagine quando você acaba de conhecer alguém e aos pouco vai descobrindo o potencial que essa pessoa tem – você acaba se deslumbrando.

Esse deslumbrar significa muitas coisas: do nada ao tudo! E do ‘nada ao tudo’ significa uma grande escalada em descobertas, em potenciais, em tudo. Jamais conseguimos medir o que cada pessoa consegue desenvolver na vida – e é esse deslumbramento que leva o ser humano a buscas constantes. Tanto do lado de quem busca, como pelo lado de quem está sendo buscado – é um processo de reciprocidade.

Outro dia estava a conversar com determinada pessoa e ela não me parecia tão empenhada em determinada assunto que eu estava tratando – vamos por assim dizer, mas com o passar do tempo descobri que a pessoa em questão tinha (e tem) um potencial enorme, apenas se sente no direito de não se expor – o que é natural. Mas nem sempre achamos tal fato natural, queremos, às vezes, que o outro se entregue de corpo e alma, coo se diz por aí.

Agora, pensando bem, com quantas pessoas vivemos, convivemos, e às vezes passamos boa parte da nossa vida ao lado delas e nem notamos (ou não pesquisamos) o potencial que elas têm. Incrivelmente somos assim: não ligamos em profundo para o outro (ou outra) que está ao nosso lado – mas o tempo passa. E mesmo o tempo passando, não conseguimos descobrir na íntegra o outro. Somos, por excelência, uma criatura cheia de entraves, de acobertamentos. Talvez uma criatura um pouco medrosa.

Isso pode ser notado a partir de observações mínimas da vida humana, do relacionamento humano. Como professor observo que determinados alunos pendem em seus escritos para determinadas áreas do conhecimento (e nem sempre são acatados por outros professores); às vezes, depois do ocorrido, também olho para dentro de mim e noto que falhei na hora de acatar as opiniões alheias escritas ali – e, muitas vezes, pedindo socorro.

E, quando digo: pedindo socorro – refiro-me ao fato de o cidadão em questão estar mostrando nas entrelinhas que precisa de alguém para que o oriente, ou até mesmo para lhe estender a mão amiga e caminhar lado a lado. Que está precisando de um ombro amigo para trocar algumas ideias. Que precisa de alguém para se sentir valorizado. Que precisa de alguém que lhe diga que é preciso continuar a caminhar. Pecamos muito nesse sentido.

Mas nem tudo está perdido – não somos de todo ruim, temos muitas coisas boas, e coloca-se muitas coisas boas no ser humano. Outro dia também ouvi de uma aluna dizendo a outra: pergunta ao professor, ele é um bom conselheiro. Parei o que estava fazendo, pensei alguns minutos sobre tais palavras... Correu-me centenas de milhares de pensamentos naquele momento e conclui que os alunos nos observam mais do que achamos. Não me contendo, olhei para as duas em questão, e balbucie: precisam de alguma coisa? (E fiz o que pude para auxiliá-las.)

Como é incrível a nossa vida: pensamos muito e agimos pouco. E quando resolvemos agir nem sempre em tempo – às vezes estamos adiantado para aquela situação, mas na maioria das vezes chegamos atrasados. Como fazer? Eis a questão, não é mesmo? Mas precisamos fazer – é a única coisa que tenho certeza: que precisamos sempre agir; que precisamos sempre fazer. Então, pensando bem, vamos observar mais quem está ao nosso lado para, num futuro bem próximo, consigamos conhece-la um pouco mais profunda – pois no todo é impossível! Publicado no Jornal "O LIBERAL REGIONAL", Caderno ETC, p. 02, em 25/02/2017

Prof Pece
Enviado por Prof Pece em 25/02/2017
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