MOSQUEIRO

MOSQUEIRO

(Almir Morisson)

Na minha juventude, quando não passava minhas férias no Rio de Janeiro na casa da minha tia Zizi, em Copacabana, ia para a ilha do Mosqueiro, cercada de dezenas de praias, pra casa do Dr. Pojucan Tapajós, pai do Renato, meu colega do Colégio Moderno. Sua casa ficava na praia do Murubira. Ia com uma porção de colegas até encontrarmos um novo pouso quando meu pai construiu sua casa na praia do Chapéu Virado.

Naquela época o único acesso à ilha era de navio. O Presidente Vargas, o Almirante Alexandrino e alguns outros menores. Normalmente chegavam à tarde e todos os que já estavam na ilha vinham receber os recém-chegados fazendo duas filas compactas laterais. Melhor dizendo, aquilo não eram filas, eram duas pequenas multidões que deixavam apenas um pequeno espaço para passarem os que saltavam das embarcações. E era uma alegria. Palmas, vaias e assovios.

Na pracinha onde desembocava o trapiche havia as tacacazeiras e tapioqueiras, vendendo as iguarias para os veranistas. Típico da ilha também eram as varinhas de mais ou menos um centímetro de diâmetro e um metro de comprimento com as cascas recortadas em elementos decorativos. Venderam tantas que acabaram com a fonte! Naquele tempo não havia as "viagreiras" de hoje, vendendo guaraná com amendoim, catuaba e ovos de codorna. Ninguém precisava disso!

Foi quando resolveram fazer a estrada, mas a travessia dos carros e das pessoas ainda era de balsa. Demorava-se mais tempo esperando na fila para atravessar do que na viagem inteira. E ninguém reclamava.

Depois construíram a ponte. As viagens de barco

Belém-Mosqueiro continuaram, mas a magia do desembarque acabou, assim como acabaram as varinhas decoradas.

Continuaram, porém as histórias de cobra grande, como a do seu João Marahú da que passa da praia para o igapó todo começo de inverno. Não sei o que vai fazer, nem como volta, mas que a cobra passa, ele jura que passa.

Depois da ponte ficou impraticável andar de carro no

carnaval. Os trios elétricos prendiam os veículos em filas intermináveis. Os que gostavam, e eram muitos, iam dançando atrás. O primeiro trio que apareceu na ilha era o chamado Poraqué. Podia até se escrever poraquê mas que chamavam poraqué, chamavam.

MOSQUEIRO MEU CENTENÁRIO

(Almir Morisson) 26/03/95 - Letra

(Gervásio Cavalcante) 28/04/95 - Música

Mosqueiro meu centenário sempre lembro de ti

De trás dos meus tantos anos olhando o que já vivi

Mosqueiro meu centenário sempre lembro de ti

De trás dos meus tantos anos cantando o que vi

Lembro no tempo em que a ponte andava no meio do rio

Levava boi, gente, moto e se chamava navio

Quando as pessoas chegavam eram palmas e assovios

Quando as pessoas chegavam eram palmas e assovios.

Depois inventaram as balsas levando até caminhão

Com filas intermináveis se enrolando pelo chão

Que nem cipó, cobra grande das histórias do seu João

Que nem cipó, cobra grande das histórias do seu João

Chegou tempo então de ponte, carro, gente, carnaval

Cobra grande engarrafada no Murubira e Farol

Já nem uma e já nem cobra virou trio e poraqué

Com morenas rebolando mostrando samba no pé

O amor que tenho no peito guardei um pouco de ti

Do teu luar, meu Mosqueiro, ainda o mesmo jeitão

Branqueando ondas na praia ouvindo o meu violão

Meu Mosqueiro centenário te tenho no. coração

Mosqueiro meu centenário sempre lembro de ti

De trás dos meus tantos anos olhando o que já vivi

Almirante e Presidente eram nomes de navios

As varinhas decoradas as vaias e os assovios

Já misturou barco, ponte, carro, gente, carnaval

Cobra grande engarrafada no Murubira e Farol

Já nem uma e já nem cobra virou trio e poraqué

Com morenas rebolando e samba no pé

Mosqueiro meu centenário sempre lembro de ti

De trás dos meus tantos anos olhando o que já vivi

Mosqueiro meu centenário sempre lembro de ti

De trás dos meus tantos anos cantando o que vi

Escutem a música em:

http://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/73757

O Gervásio fez uma melodia muito interessante para minha letra. Bonita e diferente.

O Centenário do Mosqueiro foi em 1995. Somente cantei essa música novamente em 2016, 21 anos depois de feita, em um show do Clube do Camelo, no teatro Estação Gasômetro. Tive alguma dificuldade, pois o João Moleque (esse é o nome artístico), baterista da nossa banda, puxou a melodia muito mais rápido do que tínhamos ensaiado. Mas, no fim das contas, acabou saindo bem. Tenho certeza que não foi molecagem do João Moleque. Às vezes acontece...