Calmante

Cissa de Oliveira

Eu não agüento mesmo muitas horas de tensão, então aí vai: tenho aqui – cada vez menos - uma régua muito maleável, de plástico bastante dobrável e mastigável. Aí eu comecei comendo aos pedacicos, por um dos seus quatro cantos. Era pintar uma dúvida num poema, um cansaço na descrição da tese e lá se iam diminuindo os outros três cantos também. Já comi do zero ao 1,5 aproximadamente, de forma um tanto inclinada, num dos lados, e do 15 ao 13,8 . A propaganda que estava gravada nela está “indo para as cucuias”. Ah! Eu sou mesmo contra o consumismo exacerbado! Onde já se viu colocar propaganda no centro de uma régua tão jeitosinha?

A receita é a seguinte: ponha a dita cuja entre o canino e o seu correspondente na arcada dentária inferior e prenda bem. Retorça a jeitosinha até tirar o naco. Depois faça malabarismos com ele entre os dentes, dobrando, dobrando, retorcendo, como se estivesse retorcendo o pescoço da sua inimiga, ou inimigo, que seja, por exemplo. Com o tempo você fará isso sem pensar, enquanto descobre a melhor rima ou a melhor tradução para aquela palavra nova no "paper" que está tentando desvendar.

Depois, com cuidado, retire essa coisa inorgânica da sua boquinha, antes que de tanta tensão acabe engolindo, e jogue-a no cestinho de papéis.

Pior era olhar para o centro da régua e ler: emagreça sem fazer regime.No La Belle Center... Olha só que alegria! Estou quase no La Belle, não é demais? E não engordei nadica de nada!

Cissa de Oliveira
Enviado por Cissa de Oliveira em 05/08/2007
Código do texto: T593444