Crônica de um desencanto

De dois em dois anos, vamos às urnas. Levamos nossos documentos e nossas esperanças. Até torcemos (às vezes como torcedores de futebol) para os nossos candidatos. Vivemos um período, certamente festivo, esse de eleições, como – creio – deva ser nas democracias mundo afora.

Digitamos um número, vemos um retrato e damos um “confirma”... Confirmamos um voto e delegamos a luta por nossos sonhos a alguém no qual confiamos. Não é assim? Estou falando do voto mais ou menos consciente; sei que existem distorções, muitas distorções. Sempre houve, sempre haverá...

O que é inimaginável é que o país possa ser governado não pelos eleitos, mas pelos executivos de grandes empresas. O que nossos políticos fazem por lá, investidos de poder, é representar interesses... Sim, imaginávamos, sabíamos disso... Um rico fazendeiro, como legislador, não haverá de levantar a bandeira da reforma agrária. Até aqui, óbvio, óbvio... É até compreensível que assim o faça, mas, segundo as leis, segundo a Constituição. Muito bem! Agora, receber para votar, para encaminhar emendas, para fazer o mau combate, ah!... isso não poderia ocorrer!

Pelo que vemos, é o que se faz no Brasil. Quase todo mundo tem preço. As empresas possuem seus departamentos de propina. Assim, o belo montante que os políticos recebem dos cofres públicos, fica simbólico diante do que usufruem pelas vias ilícitas. Uma tristeza! Um desencanto!

Penso que o Brasil vive um encalacramento. Precisamos dos políticos, mas eles nos traem. Traição é sempre uma palavra muito forte, mas talvez não haja outra que traduza melhor o que tem sido divulgado.

Viram? Não citei nome de ninguém... Os nomes estão por aí, pululam na mídia; e há sempre o risco de cometer injustiça, ainda que em desabafo tão despretensioso.

Algo, entretanto, me parece certo: temos, urgentemente, de encontrar uma saída. Uma delas seria começar tudo de novo, sem tanta malícia, sem tanta maldade com os brasileiros, que vivemos, além das incertezas econômicas, um período de muita violência, muito desamor, que deve ser fruto também do descrédito nas autoridades constituídas.

Numa mesa democrática de bar, dessas em que fazemos revoluções e derrubamos governos, se me perguntassem o que fazer, eu diria que, talvez (ou certamente) fosse necessário desprofissionalizar a política, de sorte que jamais houvesse reeleição para a presidência e para os demais poderes, o que poderia ser expandido para a sociedade como um todo (administrar, legislar se tornaria um serviço periódico, não sujeito a recondução imediata).

Talvez, assim, investidos de poder, os políticos não passariam seus mandados já se programando para o período seguinte. Reeleição tornou-se sinônimo de corrupção, e o Brasil não resistirá aos saques. O país quer ser feliz...