___________ EU SOU DO SOL!
 
 
Não suporto neve. Nem a neve, nem seus afins, dias cinzentos, frios e enchumbrados, termo que suponho, escorregou de ensombrado, mas na boa língua da roça virou enchumbrado mesmo. Dias marrentos, brigados com a alegria, despidos de luz. De onde vem tudo isso? Sei, não. Só sei que até figurinha de neve me dá mal-estar — até hoje Uma Janela para o Céu, filme que vi na juventude, me provoca arrepios. Fotografia de gente escorregando em neve só serve pra me agoniar. Dispenso. Dia destes uma conterrânea achou que ia arrasar me mandando imagens dos States, toda encarapuçada e enrolada em cachecóis, mostrando a neve cobrindo carros e quase soterrando casas americanas. Tive que ser sincera: é o tipo de coisa que não me seduz.

Quando eu era criança li alguns livros que talvez tenham contribuído para esta minha nevoenta aversão à neve. Eram histórias tristes, de uma menina solitária das campinas. As narrativas em primeira pessoa retratavam o sofrimento da garotinha que se virava entre paisagens desoladoras, privações e uivos de feras que rondavam a casinhola, onde a menininha passava invernos rigorosos entre montanhas de neve. Dá pra gostar disso?

Nos tempos de Colégio eu passava por uma loja, a mais bonita e moderna da cidade, naqueles tempos idos. Lembro-me que foi ali que vi os primeiros cartões de natal. Ficavam expostos em vitrinas  pra gente escolher. Eram fascinantes, alguns perfumados, outros se abrindo em lindas rosas rendadas, e ainda os musicais — de dentro do papel emergia uma musiquinha suave e cristalina. Por fim, tinham os nevados. Estes não me agradavam; pelo contrário, aquelas árvores secas com galhos recobertos de neve, as casinhas com telhados e chaminés esbranquiçados me despertavam uma tristeza inexplicável, faziam minha alma se recolher, se encasular.

Talvez um dia, eu faça uma terapia para tentar as pazes com a neve. Mas por enquanto, se vejo um filme, um desenho animado com animais e trenós, é mudar de canal na horinha. Sem chance de alguma coisa assim me pegar diante de uma tv ou de uma telona.

Aqui no Brasil, há algumas cidades que nevam. Corro delas mais que o diabo da cruz. Até os nomes fiz questão de deletar. Quem me convidar para ver esse cenário de tristeza vai perder tempo, não vou de jeito nenhum!

Ufa! Eu sou do Sol! Dias solares me deixam também ensolarada. Coisa boa é quando a Estrelona dá as caras por entre as nuvens anunciando “Eu tô chegando!”. Que chegue, e que seja rápida! Não há nada mais bonito pra mim que um dia de sol. Sentar numa cadeira, fechar os olhos e deixar os raios aquecerem a alma, apaziguar o coração. A Ciência afirma que o Sol está condenado a morrer, daqui a 7,5 bilhões de anos: sorte minha, já terei ido muito antes.

Assisti a uma matéria sobre Rjukan, pequena cidade, ao leste da Noruega, que durante seis meses do ano, de outubro a maio, não tem sol. Só de ver, fiquei angustiada. Pudera! Com frio e dias cinzentos não dá pra ser feliz, mas é de jeito nenhum! E hoje amanheceu assim, esse dia enchumbrado, que bem poderia significar também colorido de chumbo. O dia não vai ser fácil. Mas como diz a canção: Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã/Espera que o sol já vem... Ainda bem!