____________CANTINHO DO PENSAMENTO



Mordeu o coleguinha? Empurrou na hora do recreio? Roubou a merenda do amiguinho, ou mexeu no guardado da geladeira? Desrespeitou a mamãe ou a professora? Bateu no irmãozinho? Cantinho do Pensamento!

O Cantinho do Pensamento, ou Cadeirinha do Pensamento, existe há muito para ajudar pais e professores na árdua tarefa de educar. É um recurso utilizado para mostrar à criança delituosa que ela deve se isolar por algum tempo a fim de pensar no que fez de errado.

De acordo com os princípios do Cantinho, a criança deve ficar ali, fora de circulação, privada de suas atividades, de suas brincadeiras, para pensar que o que fez prejudicou alguém, deixou tristes, pessoas que lhe amam. A ideia é que pensando na inconsequência de seus atos ela tenha consciência das consequências para si e para o outro.

O Cantinho é válido? Há quem pense que sim. Há quem pense que não. Para os favoráveis, a criança irá pensar melhor antes de repetir seus erros. Para os do contra, ele não vai fazer a menor diferença, uma vez que criança — pelo menos antes dos sete anos — não consegue assimilar a relação pena-delito, portanto, a penalidade — pois, no fundo, no fundo é uma penalidade não surtirá qualquer efeito. O máximo é a criança se revoltar contra seu algoz e partir para uma possível retaliação.

Mas qual a novidade? Prós e contras existem em qualquer situação, para quase tudo na vida. Sempre haverá quem continue aplicando o Cantinho, e quem o considere uma perda de tempo. Mas o que tem a ver o Cantinho do Pensamento, coisa inventada pra criança, com o mundo dos adultos? Tudo. Alguns adultos também erram feio. Sofrem muitas advertências, mas nem assim demonstram qualquer receio em enfrentar o Cantinho. É por isso que vemos tanta reincidência no erro, e a possibilidade de persistir errando, sendo mais forte que a vontade de retroceder.

Fico abismada quando vejo por aí notícias como as dos últimos dias. Políticos corruptos, listados em inúmeros inquéritos — ao mesmo tempo, diga-se de passagem — que, no entanto, persistem em suas bandalheiras. Não é incrível, por exemplo, que seres como Aécio Neves, o próprio Michel Temer e Eduardo Cunha — esse já atrás das grades — continuem na caminhada da corrupção?

Intrigante. Não é possível que pessoas assim sejam normais. Casos psiquiátricos, só podem ser, pois não há nas possibilidades do comum algo que os explique. Só podem estar encaixados em algum transtorno dentre os muitos listadas na Psiquiatria.

Difícil. Quem dá conta de resolver esse emaranhado de  corrupção que tomou conta do País? E aqui, vendo os adultos que parecem não temer o Cantinho das Grades, penso que talvez o que lhes tenha faltado mesmo é um bom Cantinho do Pensamento... Sim, naquelas vezes em que roubaram o docinho do coleguinha, no banco da escola, ou morderam, na geladeira, o pudim do almoço de domingo.