A Um Passo

A um Passo

Certamente foi no mês de janeiro. Manhã de Sol forte e aroma de vida. Pulsava em mim um medo de morte. Meu coração descompassado e minhas mãos sempre tão frias!

Eu ligava. Ligava e o telefone quebrado. Vários dias. Havia sido um pedido; razoável como meu sonho. Mas, não era um apelo de amor.

Era quase uma ordem - tocar fogo de vez e acabar com as ilusões secas, onde nem as lágrimas molhavam o chão. Os remédios para serem doados ao asilo era pretexto.

Naquele dia, minha alma agarrou-se ao corpo com intensa força. Acho que seria ridículo morrer; seria justo.

Continuei minha caminhada, trêmula e triste. Como se fosse cair de um despenhadeiro, entrar no fundo do mar, ou atingir em cheio a Aurora Boreal.

Amor ao desconhecido. Tudo fica menos quando só é sentido pelo outro. Não tem a menor importância. Eu o assustei. Era uma estranha; talvez uma louca!

Li seu pensamento que era a única coisa tocável para mim. Ler enganos, Castelos. Sem rei e sem rainha.

Ele parecia mais sério naquele dia do pedido ao telefone: Venha pegar os remédios pessoalmente; não mande portador.

A alegria me torturava. Continuei andando, andando pensando na minha única imoralidade, contra o mundo, contra a mim, a ele. Amar...

Eu sentia que estava perdida, perdida de mim. Eu era minha pobre criança, mas não, não. Eu era uma mulher.

De repente, me bate um cansaço. Exagerei na caminhada. Sento no banco, perto das mangueiras. Tantos pássaros, borboletas, uma maravilha de jardim.

Escuto um barulho; algo caiu – uma manga! Madura, bem perto de mim. Peguei rápido, antes que fosse achada por outra pessoa.

Era um “sinal” de felicidade, claro!

Naquele dia, enfim, consegui telefonar, combinar o horário. Fui, lembrando ainda do gosto da manga rosa.

Que Deus me perdoe, a fruta não havia sido para mim.

Verônica Aroucha

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Verônica Aroucha
Enviado por Verônica Aroucha em 10/08/2007
Código do texto: T601396
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