É proibido proibir!

Durante a caminhada matinal observo a praça com uma sujeira tremenda, resquício da festa que durara a noite toda. Alguns bêbados dormindo no jardim e outros cambaleantes tentando se equilibrar e quem sabe acertar o caminho de casa. Enquanto o odor forte de urina, álcool, vômito e suor, sufoca-me. Corro, penso, pinto uma crônica na minha memória, agora coloco-a em palavras.

Que triste destino! Beber até perder a razão, direção, o ridículo e outros perdem a própria roupa, amanhece da mesma forma que vieram ao mundo. E contam os louros da festa:

- Sucesso total!

Que noção a sociedade tem mesmo de sucesso e de fracasso?

Quantos acidentes nas estradas devido o alto consumo de drogas lícitas nesses períodos festivos? E as vidas ceifadas por conta de alguém que dormiu ao volante, será que não vale a pena contar? Todo sucesso é questão de ponto de vista. Um nordeste com índice gigantesco de desemprego aguenta promover uma festa junina de cinco, seis dias?

Parece que a crise econômica brasileira não atinge a todos ou pelo menos não conseguiram ainda captar a gravidade das coisas. Um sistema previdenciário em vias de falecimento, reforma ou não reforma que se estica de lá para cá. Delações & delações. E caímos no forró. A crise é deles, será? Esquecemos muito rápido de que lado a corda se arrebenta. Caímos no forró? Caímos. Caímos. Caímos ano após ano...

Fiquei observando a revolta de alguns quando o governo de determinado estado reduziu os gastos com as escolas de samba. Gente! Mexeu com o carnaval?! Pode? Logo os protestos ecoam de todas as partes. Deixar os aposentados sem salários é apenas um detalhe, mas um carnaval sem a injeção de dinheiro público, parece algo inaceitável. A visão de um país de sucesso faz parte do carnaval.

Enquanto escrevo, ouço um sanfoneiro fazer valer o investimento público no seu trabalho. Olhe que há uma briga entre os forrozeiros e cantores sertanejos que estão tomando os espaços nas festas tradicionais nordestinas como o São João. Quem é capaz de proibi-los? Agora, parece que o sanfoneiro leu meus pensamentos e resolveu mudar o ritmo, atualizar seu repertório para não ficar para trás e ataca: “ Tá na hora, tá na hora, tá hora de brincar, pula, pula, bole, bole...” E fico a matutar: - Será que Xuxa gosta de forró? Rio. Que cidade maravilhosa! Choramos juntas.

Agora entendo o descontentamento dos sanfoneiros e dos ouvintes que moram na praça do circuito. Não deveria ser proibido... PROIBIDO? Desculpe-me, leitor, esqueci completamente que era para falar do São João do nordeste. Espere só um pouquinho:

- João, arrume as malas aí... “tá na hora, tá na hora...”

Elisabeth Amorim

blog: toque poético ( toquepoetico.wordpress.com)

Elisabeth Amorim
Enviado por Elisabeth Amorim em 24/06/2017
Reeditado em 24/06/2017
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