Sísifo

Toda vez que deito em seu braço, encosto minha cabeça no seu ombro e fico alisando seu peito, olhando o seu perfil, penso em máquinas do tempo. Não naquelas máquinas que fazem as pessoas viajarem ao passado ou ao futuro. Penso em máquinas que parem o tempo.

Quando seu beijo chega ao encontro do meu, nossos lábios colados, nossas línguas dançando num bailado ritmado, compassado, o tempo não pára. Inclemente, continua passando.

Se houvesse jeito, se houvesse força que pudesse segurar os ponteiros dos relógios todos, ainda haveria um que continuaria tique-taqueando e que o levaria pra longe de mim.

Meu amor por você é feito assim: você vai porque deixo ir. E deixando você ir é que eu tenho a certeza da sua volta. Soltando você é que o prendo, mesmo com amarras feitas do meu cabelo comprido sobre seu peito. É sempre para meus braços que você acaba voltando. Para meu colo. Para meu corpo. E eu, para sua casa.

Não sei terminar este texto. Talvez porque ele não tenha um desfecho. Assim como a história de nós dois. Tantas vezes terminamos e recomeçamos. Tantas vezes fechei a porta jurando em pensamento nunca mais voltar. Tantas vezes falei que não queria mais você e você me perguntava se era isso mesmo que eu queria e eu dizia que sim, mas sem certeza. Sem saber de nada. Este texto permanecerá assim, sem fim. Talvez, desta maneira, nossa história fique também sem fim, nem meio, porque ela é escrita apenas de começos...

"Eu deixo Sísifo no pé da montanha! Sempre se acha sua carga novamente. Mas Sísifo ensina a mais alta honestidade, que nega os deuses e ergue rochas. Ele também conclui que está tudo bem. O universo, de agora em diante sem um mestre, não parece a ele nem estéril nem inútil. Cada átomo daquela pedra, cada lasca mineral daquela montanha repleta de noite, em si próprio forma um mundo. A própria luta em direção às alturas é suficiente para preencher o coração de um homem.

Deve-se imaginar Sísifo feliz."

(http://www.geocities.com/serouseja/camus/sisifo.htm)