A cidade era velha conhecida embora houvesse momentos em que ela me era estranha, totalmente estranha, às vezes me identificava com os becos, avenidas, ruas, outras andava a  passos largos fugindo dos zumbis, fugindo de mim mesmo, mas queria estar ali, ansiei por anos em ir para a cidade, me sentir parte dela, estar ali, queria veementemente me lembrar, me vê nas ruelas, me perder e me encontrar em meio a um aguaceiro sem fim, sim ali chovia e soprava uma brisa oceânica fria, que contrastava com o calor da gente do lugar, a cidade toda iluminada numa noite de junho, a cidade de ressaca em julhos eternos onde numa noite me desencontrei, mas desencontrar-se é a chance de se reconhecer, na volta para casa que há muito me era longínqua, frequentei templos onde ninfas, pareciam saídas de uma nave cósmica, onde seres humanos invocavam espíritos, às vezes saía e pensava naquela frase de Camus quando  exausto de  uma sessão num terreiro de macumba,  olha pro céu estrelado e diz preferi-lo aos deuses dos homens;  sim queria a felicidade e a tive. Compartilhei momentos de grande alegria e prazer muitas vezes por rever pessoas que não via há anos, a emoção de estar com velhos conhecidos. Lembro-me das várias camas ofertadas, das refeições, dos cafés e dos cigarros fumados com a amiga, das recepções preparadas carinhosamente, sentia a alegria sincera daqueles que vibram por mim, o olhar de saudade da mãe, amigos e irmãos, às vezes fui tratado com indiferença por alguns, mas isso pouco importa é apenas um registro, o fato é que a viagem regenera, repõe aquela energia vital, para continuarmos o nosso destino, a caminhada, o que importa é que a viagem para a cidade fez novamente me senti feliz e pleno por alguns instantes, e claro também aprendi com essa viajem, pois toda viagem tem um quê de iniciática, uma viajem de conversas de confissões, de visitas a clínica de repouso onde estava internado a amiga. Senti-me pleno, me senti feliz e o que fica são as boas recordações, o amadurecimento interior, não sou saudoso, mas sinto uma saldadezinha que fica latejando, se pudesse estaria sempre ali, mas as minhas escolhas me afastaram de onde me sinto bem, mas é assim mesmo, a vida é de idas e vindas, encontros e desencontros, de esperanças e desesperanças, mas tenho uma gratidão imensa por todas as pessoas – todas que tive contato e em especial aos familiares e amigos íntimos com quem tive o prazer de ter estado. Se em algum momento da viajem houve algum percalço, e foram poucos, se comparados a satisfação que tive em ter estado na cidade, isso não ofusca o brilho e o prazer que tive de ter estado ali compartilhando momentos mágicos com todas essas pessoas que me deram sala, me ofertaram cama e comida e que foram gentis comigo,
 
 
Labareda
Enviado por Labareda em 08/08/2017
Reeditado em 28/10/2019
Código do texto: T6077424
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