POETAS , LOUCOS E HOMENS SÉRIOS


          Somos todos muito previsíveis. Não é que as pessoas vem se repetindo desde os tempos mais remotos? É triste a gente pegar um daqueles manuais de psicologia básica aonde são descritos uns tipos de criaturas e nos acharmos direitinho em um deles! E se resolvermos enlouquecer para sair do marasmo, aí vem o Dr. Freud e nosso delírio ta lá catalogado, descrito e diagnosticado.
Taí... entonces a gente vira poeta que é um louco institucionalizado, alguém que os pragmáticos homens de negócios odeiam e desprezam, mas que, como as putas e outras superflueridades, é visto por tais senhores como um mal necessário. Na verdade é isso que eles dizem das moças alegres no oficial, porque não há pessoas mais chegadas a uma baixaria do que esses meninos enfiados em corpos de adultos bem fornidos, já em fase de sedimentação das camadas. Sim, porque sempre é bom haver um pouco de mel pra aliviar o amargo da vida. E uns versinhos fazem seu número nos circenses eventos programados para aliviar as tensões, as programações de arte cumprem este papel expletivo e decorativo que a cultura tem para os grandes senhores do capital. E escritores se acotovelam nos balcões das possibilidades quiméricas disputando migalhas. Que miserê, Deus do céu! Mas e os tais incentivos à cultura? Ah, esses homens do dinheiro só sabem é quanto podem lucrar com as obras de arte nos leilões... e usam os poetinhas pra confeito do bolo do seu materialismo asqueroso. Além disso, investir em quadros famosos, objetos de arte em geral, se constitui em um ramo de negócios comparado à compra de ouro e joias. Tudo que é criado torna-se assim, neste nosso mundinho, algo passível de dar lucro e rapidamente desvirtuado da sua original finalidade. Vira mercadoria.
Quando viu sua invenção sendo usada na guerra como arma de destruição, Santos Dumont começou a morrer de desgosto. E é de domínio público que os transplantes de órgãos fomentam um negócio rendoso no mercado negro, e os grandes avanços na genética podem produzir coisas medonhas como no país da Disneylândia, donde vem a notícia de que pais decidiriam por escolher óvulos doentes alegando que queriam conviver com alguma experiência peculiar que o filho portador de dificiência lhes proporcionasse.
          Não é mesmo algo sublime?
De poeta e de louco, todos terão mesmo um pouco? Quem foi que disse uma asneira dessas? Assim por baixo, no varejo, nem loucura interessante, porque os nossos doidos varridos já não são aqueles que faziam a festa da gurizada como as Marias Loucas e os bebuns considerados patrimônio da cidade, com suas filosofias etilicamente forjadas ou suas simpáticas e até inocentes investidas. Os novos tempos são ainda mais duros para os desajustados cidadãos improdutivos atravancando o caminho dos homens ocupados e das mulheres esvaziadas das antigas paciências.
           No recinto de uma feira de produtos qualquer, cidadãos um tanto alegres e alcoolizados abancados no caminho do progresso, visivelmente não consumidores, foram alertados pelo policial de que deveriam se retirar.

              - Mas e o nosso direito de ir e vir?
                negociou um deles.
               Ao que o policial respondeu:
      

               - O direito de vir tu já teve, agora resta o direito                     de IR... e vão desinfetando daqui....!!!

            Um mundo literalmente pragmático ....




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