Outubro, 11

Prestes a completar um ano sem escrever nada. Eu bem que poderia ter morrido nesse um ano, e talvez eu morri mesmo.

Um ano enterrado entre insônias e dívidas. Se a existência não durar muito mais, alguém que veja essa potencial última entrada nesses registros entenderá o fim.

É preciso registrar o fim. Escolhendo o fim ou não. Quem sabe não ajuda outros a escolherem ou a abrir mão das escolhas?

Quando se perde a consciência do eu, o coletivo cresce, vontade de ajudar. Quanto menos ajuda pra si próprio, mais sobra espaço pra outros. Sem fazer juízo de valor se isso é bom ou ruim - provavelmente ruim.

Sem sonhos pra escrever. Sem a beleza interessante da vida. Sem sensualidade - tem sido muito atacada ultimamente - mas provavelmente, para o bem - chega de ser o país da bunda.

Difícil se olhar no espelho - a autodestruição emana -

Sem nada pra fugir da realidade crua e sóbria. Não me imaginei assim um dia - mais feito de fígado do que de coração - o último, aliás, nunca me ajudou muito - outra nota pra posteridade (ou simplesmente futuro qualquer).

Um poeta menor? Cronista inferior? Já seria bem melhor que um excelente burocrata.

As lágrimas de umas cinco mulheres sobre o túmulo? Um postmortem convidativo.

Precisar acordar, sem ter dormido. Mais um pouco de veneno diário.

Açúcar no remédio amargo, tecer pensamentos avulsos depois de quase um ano. Parnasianismo sem beleza. É o que me tornei.

Borboleta de ferro?

11/10/17