Antítese

Consta no anedotário popular nacional de um certo país, que certa vez, no período onde essa nação mergulhou em terrível recessão econômica, que houve uma mulher eleita, por duas vezes, Presidente daquela República de forma muito suspeita, já que seus apoiadores diziam “fazer o possível e o impossível” para elegê-la. E nesse esforço, valiam, portanto, qualquer tipo de expediente, legal ou ilícito.

Diziam que esta senhora tinha enormes dificuldades de concatenar ideias em sua língua pátria e isso provocava verdadeiros descalabros quando tentava se expressar em público de forma improvisada.

Ninguém entendia o que a mulher falava e ainda por cima criou um neologismo exigindo que a chamassem de Presidenta.

Com tantos absurdos, não demorou muito para que a sociedade, gozadora e irreverente, começasse a chamar a então Presidenta de “Presidanta”, em alusão a um animal chamado Anta, comum daquelas florestas tropicais. Isto porque lá, tradicionalmente, sempre que uma pessoa apresentava dificuldades intelectuais de entender alguma coisa era chamada de anta. Era isso também, em semelhantes situações, remetidas aos asininos. Lá também costumam chamar de burro, ou termos a ele associados, por exemplo “burrice”, quando se cometiam disparates ou falta de entendimento de coisas triviais.

Naturalmente que, essas formas de chamar pessoas de antas ou burros, nada tem com esses animais, os quais, muito pelo contrário, são extremamente inteligentes dentro dos seus costumes na natureza, o que explica sua capacidade de ter sobrevivido, desde seu surgimento até hoje, compreendendo assim essa alusão, em uma extrema ofensa a esses animais. Ainda mais dado que a tal senhora fazia coisas que não se tinha comparativos na natureza, desde o Éon Arqueano.

Mas, deixando o animal “anta” de lado, já lhe pedida a devida vênia, tanto se falou, se escreveu e publicou nos meios de comunicação daquele tempo, que a tal senhora acabou vindo a saber sobre essas alcunhas desabonadoras e ficou muito brava e possessa.

Ora todos sabemos que, nas brincadeiras de menino nos tempos da escola primária, ao se dar a alguém um apelido, e se essa pessoa demonstra raiva, o apelido “cola”. Essas coisas hoje chamam-se de “bulling”, o que também é um neologismo emprestado da língua inglesa.

Dessa forma, a cada exemplo de discursos daquela senhora, e, pronunciados aqueles costumeiros absurdos, lá vinha o animal lembrado, a pulverizar a mídia de “memes” correlatos.

No trato cotidiano com a então Presidente, todo cuidado era pouco, pois dela parecia ter se apossado o cramunhão, e, seus assessores, seus ministros e ninguém conseguia ter um minuto de conversa com ela, sem ”levar patadas” gratuitas. Ela era extremamente agressiva e mal-educada e ficou ainda pior, após ter conhecimento desses fatos.

Ocorreu então que, certa vez em um discurso improvisado, no qual ela se expressou sobre o clima e disse algo sobre a possibilidade ou não de se “estocar vento”, para geração de “energia eólica, em alusão aos lagos na geração de energia hidrelétrica, quando armazena-se água nas represas. A partir daí, para tentar explicar seu raciocínio ininteligível, falou do dia e da noite, do sol e da chuva, das bonanças e das tempestades, enfim, falou um montão de coisas atabalhoadas que ninguém entendeu. Ao seu socorro veio então um ministro, que ousava se aproximar mais, e começou falando ao público que iria explicar cada uma dessas “antíteses” para esclarecer as ideias.

Bom, não precisava aqui dizer, e, como ignorante que era a tal presidente, ao ouvir dele que ela havia pronunciado várias “antíteses”, imediatamente mandou demitir o ministro, por estar fazendo proselitismo de seu apelido e assim contribuindo para conspirar contra ela, e, pior, na sua presença e em público.

E mais, passou a vociferar completamente descontrolada, ofendendo a todos e principalmente a genitora do ministro, dizendo que anta seria a senhora mãe dele, além de incontáveis impropérios.

Estarrecido o tal ministro ainda tentou explicar o que viria a ser a tal “antítese” que ele havia falado.

Dizia ele:

- Senhora Presidenta, deixe-me explicar! Veja bem:

Antítese (Grego para "oposto à criação", do "contra" + "posição") é uma figura de linguagem (figuras de estilo) que consiste na exposição de ideias opostas. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Esse recurso foi especialmente utilizado pelos autores do período Barroco. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos, que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. É uma figura relacionada e muitas vezes confundida com o paradoxo.

Várias antíteses podem ser feitas através de Amor e Ódio, Sol e Chuva, Paraíso e Inferno, Deus e Diabo, Alegria e Tristeza

A antítese é a figura mais utilizada no Barroco, estilo de época conhecido como arte do conflito, em que também há presença de paradoxos, por apresentar oposições nas ideias expressas. Podemos entender como uma "tese contrária", embora não se trate do mesmo "paradoxo" científico. Aqui trata-se de asseverar algo por palavras contrárias, quando a linguagem corrente não tem força de expressão devido à previsibilidade de palavras que se tornaram corriqueiras.

A antítese é também um dos três elementos da dialética hegeliana: tese, antítese e síntese.

Tudo isso de muito pouco adiantou. O ministro havia sido exonerado e, como “palavra de presidanta não volta atrás”, manteve-se sua decisão, não reconhecendo a sua própria e tremenda ignorância.

Mas, o que ficou de aprendizado dos fatos tenebrosos daqueles tempos, é que estes passaram então a ser tomados como exemplo de consequências e de como os cidadãos pouco se aproximavam de seus representantes mais importantes na condução do governo, bem como pouco participavam na criação de suas leis e de seu judiciário, formando assim os três pilares que sustentam uma democracia.

Somente após ser-lhes concedido os poderes é que começam a perceber a tremenda asneira cometida, já que, se existe uma coisa que não se consegue, por mais que se esforce, e seus protegidos busquem neutralizar os constantes deslizes e imperdoáveis gafes, e enganar a todos o tempo todo.

Há uma frase muito esclarecedora sobre isso, e que sintetiza o que na época seria aquela senhora, que em língua inglesa é:

“When you are dead, you do not know you are dead. It's only painful & difficult for others. The same applies when you are stupid”.

Em tradução livre seria:

“Quando você more, você não sabe que você morreu. Isso é doloroso e difícil para os outros. O mesmo se aplica quando você é idiota”.

Creio que esta seria a melhor forma de explicar como funcionava o pouco de cérebro que diziam ter aquela “representante do povo”, ocupando o cargo mais alto da nação, por conta de escolhas que beiravam a irreverência depositada nas urnas.

Mas, como tudo naquele país era um tanto quanto improvisado, e os eleitores esqueciam-se rapidamente das loucuras de seus representantes, aquela senhora foi novamente eleita, de forma muito suspeita devido uso de financiamentos de campanha advinda de uma série de formas de corrupção em toda a “aparelhada máquina do Estado” em prol de seus apoiadores. Ela pouco durou no cargo, pois, através de um processo de “impeachment” foi em seguida destituída do cargo.

Algum tempo depois, foi julgada e presa por atuar antes da eleição em negócios escusos com a maior empresa do país no ramo de petróleo, com aquisição fraudulenta de uma refinaria nos EUA, denominada Pasadena, que estava então destinada a ser “descomissionada” e vendida como sucata.

Como então chefe do conselho daquela empresa, autorizou a compra de algo que valia cerca de US$40 milhões, por pouco mais que US$1,2 bilhões. Esse caso de Pasadena, naquele país distante, foi apenas um pequeno exemplo de como as coisas lá aconteciam. Ocorriam verdadeiros embates para promoção de eventos significativos para que investimentos associados a propinas ocorressem. Só na área dos esportes tiveram em curto espaço de tempo realizados os Jogos Panamericanos, Campeonato mundial de Futebol (Copa do Mundo), Olimpíadas, com vultosos investimentos em estrutura para tais coisas. Foi então algo comparado ao “estoiro da boiada”, foram porteiras escancaradas para que tudo acontecesse sob os olhares estarrecidos dos mais esclarecidos. Tudo foi permitido!

Mas, tantas foram que a população resolveu tomar conta de seu país e passou-se a condenar desde deputados, ministros, presidentes, governadores, senadores, empresários em um processo lento de “profilaxia” no país, mas, pautado na lei, a qual, ainda durante esses processos era modificada por aqueles que se sentiam ameaçados. Fantasma da época havia sido um corajoso juiz que passou a condenar todos esses “importantes” meliantes, através de um amplo processo chamado “Lava-Jato”.

Esse país, felizmente hoje está diferente, após algumas gerações. Durante esse longo período, após várias turbulências políticas, entenderam que o que faz o país mudar com consistência é uma maciça aplicação de recursos na formação educacional do povo. Só assim conseguiram melhores representantes para que prosperasse sua economia, fizessem mais inclusão de sua população, trouxessem mais “conforto social” e sedimentasse a então tênue democracia. Somente assim pode seu povo obter mais respeito por aqueles que eles então passaram a eleger, em um sistema eleitoral parlamentarista e, portanto, de poderes e representatividade também mais equilibrada.

Após isso, esse país passou também a ser respeitado internacionalmente, como sempre foi digno de sua representação no cenário mundial. Seu povo desde então não passou mais vergonha por causa de seus escolhidos, sendo hoje um dos países mais importantes entre as nações e exemplo para aqueles que eventualmente ainda não alcançaram o grau de maturidade política requerida para galgar tais posições.

Seu povo hoje sabe bem aquilatar o custo cobrado para que prevaleça a democracia, e saber que honestidade é um bem tão precioso que nunca poderá ser encontrado em pessoas tidas como vulgares, como consta de um adágio alemão que diz “Ehrlichkeit ist ein teueres Geschenk, was man von billigen Leuten nicht erwarten kann” (Honestidade é um caríssimo presente, o qual a gente não pode esperar de gente barata).

O mundo não é dos espertalhões, como incitava o Gerson ("Você gosta de levar vantagem em tudo") em uma propaganda de cigarros. Essa nossa sociedade é de pessoas honestas, de boa índole, autênticas! A sagacidade malévola, um dia, é descoberta e se transforma em constrangimento, embaraço, humilhação, todas essas sinônimas e primas irmãs da vergonha. A honestidade sempre será um exemplo para as gerações futuras. A sagacidade e velhacaria sempre corromperá a vida; já a honestidade e boa índole e junto aos melhores valores de uma sociedade sempre enobrecerá o espírito!

Marco Antonio Pereira

12/10/2017

insight 18:13hs

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 12/10/2017
Reeditado em 09/03/2020
Código do texto: T6140690
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