PRECONCEITO

TAÍS ARAÚJO disse que “– No Brasil, a cor do meu filho é a cor que faz com que as pessoas mudem de calçada, escondam suas bolsas e que blindem seus carros – declarou.

Preconceito é mal de difícil cura, que permeia a história da humanidade, com momentos de enorme gravidade e outros disfarçados, discretos. Sou de um tempo em que os “brasiliani” eram encarados com desconfiança na colônia italiana e o “colono” era objeto de deboche naqueles meios supostamente mais “civilizados” das metrópoles. Fazia-se o mesmo com o “caipira” e com qualquer outro forasteiro, diferente. Hoje o preconceito é combatido abertamente e o grau de tolerância à diversidade aumentou muito. Em 1967, Gérard me acolheu clandestinamente no quarto de empregada isolado no oitavo andar do prédio em que residia sua família, sem elevador, em Paris. Até aí, tudo bem. O detalhe é que ninguém dos seus poderia ter ciência de que eu lá vivia, pois a família tinha fortes restrições a sul-americanos, notadamente brasileiros. Restrições e temor. É que Gérard fora roubado por um compatriota. Nem vamos falar dos Estados Unidos da América, onde a segregação racial era ainda muito marcante nos anos sessenta e setenta. Conheço muita gente que nutre, hoje, preconceito contra o negro, o judeu, o colono, o nordestino e, mesmo, contra “gringos” em geral. É complicado fazer o espírito humano evoluir. Se existe preconceito contra mulheres, homossexuais, velhos, gordos, jovens, deficientes, o que se pode esperar quanto a diferenças de cor, de raça, de religião ou de sexo? O “politicamente correto” tornou-se realmente uma chatice e um exagero. Tudo bem. Mas o trabalho para o arejamento e a iluminação das mentes deve ser constante e merecer nosso empenho. Se não existir atenção para com os pequenos gestos do dia a dia, o discurso filosófico tende a virar papo furado: um faz de conta. O preconceito é coisa grave, que, segundo já demonstrou a História, pode gerar atrocidades e desgraça. Isto não significa que o professor não seja enérgico ou reprove pessoa de cor ou qualquer tipo de crente; muito menos que eu tenha de me casar com uma asiática, linda, magra, jovem, agnóstica e culturalmente evoluída. É importante acolher e prestigiar a diversidade. Só não é possível inverter a mão e me discriminar, por exemplo, por ser "idoso", heterossexual, fumante convicto, bebedor diário de bom vinho e de cultivar minhas manias e hábitos.