TEMPOS DIFÍCEIS

A coisa mais fácil na vida é o “parti pris”, a posição partidária, aquilo que, no Direito, chamamos de “advocacia de partido”: temos de defender isto ou aquilo, bom ou mau, não nos incumbe escolher. Pensar o mundo, a sociedade, a história, a vida já é coisa bem diferente. Aqui, já não cabem as paixões arrebatadoras, as ideologias, os cacoetes partidários e quaisquer outras inclinações menos nobres do espírito humano. É por isto que, em política, a gente conceitua o estadista como aquele grande condutor acima de partidos e a favor da sociedade. Pensar grande é o desafio. Talvez você não precise agir assim em vários campos, mas quando o pensamento encaminha-se para uma expressão que tenha repercussão na sociedade, e que não se volte a uma simples refrega político-partidária, é preciso muita responsabilidade e reflexão. Não só no dizer, mas no pensar, o que, naturalmente, requer certo embasamento cultural. É claro que me interessa a opinião do vizinho, mas se quero melhor entender um dispositivo constitucional do país, parece mais lógico auscultar um estudioso da matéria. Posso ouvir meio mundo para edificar uma casa, mas quem fará a planta será um engenheiro. Fico, neste contexto, um tanto perplexo ao constatar manifestações ideológicas ou partidárias sobre todos os assuntos, como se fossem verdades definitivas, absolutas. Ora é alguém a defender as ideias primitivas da esquerda, ora do pensamento neofascista que se espraia sem que alguns se dêem conta. Todo mundo conhece o esquerdismo, seus fracassos e suas mazelas, com Stalin, Castro, Maduro e outros da mesma laia, nem quero agora falar do Brasil. Parece que o neofascismo é menos conhecido, embora tão perigoso quanto: “Neofascismo é uma ideologia pós-II Guerra Mundial a qual inclui elementos significativos do fascismo. O termo neofascista pode ser aplicado a grupos que expressem uma admiração específica por Benito Mussolini e pela Itália fascista. O neofascismo geralmente inclui nacionalismo, nativismo, anticomunismo e oposição ao sistema parlamentarista e à democracia liberal. A alegação de que um grupo seja neofascista pode ser calorosamente contestada, particularmente se o termo for usado como um epíteto político. Alguns regimes pós-II Guerra Mundial têm sido descritos como neofascistas devido a sua natureza autoritária, e, às vezes, por sua fascinação pela ideologia e rituais fascistas.”

Tanto um dos pontos “cardeais” da ideologia como outro costumam oferecer-se como verdade, caminho único, salvação e, aqui o fato mais grave, encerram uma perigosa ideia supremacista. O importante a ressaltar é que o século XXI é o tempo do pluralismo, da liberdade, do respeito às diferenças, avesso a fronteiras, à censura, a domínios de qualquer ordem, sempre com profundo respeito ao outro, às minorias, aos menos aquinhoados. Quando certos grupos de opressão tentam colocar as garras de fora e forjar o “pensamento” - de esquerda, de direita, de dentro, de fora– é preciso ter cabeça para separar o joio do trigo, revisitar os clássicos, Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Aristóteles, Platão. E repensar o mundo em que queremos viver.