FOI ACIDENTE NA AREIA

FOI ACIDENTE NA AREIA

(Almir Morisson)

Dizem que todos os “Camelos” não são muito chegados a paus-de-barracas, se bem que o caso do “Chupa Raio” com o Dantas ocorreu com uma barraca de alumínio. Mas foi com uma barraca de praia. O certo é que os suportes de barracas de praia, quer sejam de alumínio ou de madeira, não se dão bem com os camelos, principalmente com os do Clube do Camelo, a despeito de serem fincados na areia, comum nos desertos...

O incidente do Chupa Raio já foi contado em nosso primeiro livro. Esse agora, também imputado a uma barraca de praia, ocorreu em Salinópolis, cidade balneária do Pará, que com suas lindas praias atrai inúmeros turistas sedentos de lazer.

Assim foi com nosso amigo Gervásio que, naqueles feriados de carnaval, deslocou-se com sua família para desfrutar das delícias daquele paradisíaco logradouro. Viajou no sábado e só deveria voltar na quarta feira de cinzas.

Antes da viagem, o insigne compositor havia marcado uma seresta, tão logo voltasse, onde, além de exibir seus notáveis dotes musicais, faria alguns arranjos para as musicas a serem apresentadas no próximo show.

Telefonei na terça para acertar os detalhes do próximo fim de semana musical e fui surpreendido pela recusa peremptória do Prota (o nome dele é Gervásio Protásio Cavalcante) em participar da seresta. Dizia que ao desarmar a barraca na praia do Atalaia, ou talvez na do Maçarico, o pau escapara-lhe das mãos e viera, certeiro, com areia e tudo atingir-lhe os olhos. Assim tivera que retornar na segunda, em vez de quarta, diretamente para o hospital e que estava com uma bruta conjuntivite. A coisa não ficou muito bem explicada e até hoje, alguns anos depois do ocorrido, ainda se queixa das sequelas, sem esclarecer direito quais.

Olha que, para recusar uma seresta, a coisa devia ter sido muito grave. Dizem que o exímio arranjador não queria mesmo era exibir o olho roxo decorrente do incidente paralelo, ocorrido com a patroa, esperando até que a “roxura” sarasse, optando por jurar que “foi acidente na areia”.

Preferi contar a história musicalmente embora, talvez por respeito ao cavalheiro ou por medo da primeira dama, ninguém quisesse musicar meus versos. Lembrei até do Nairú, personagem onírico de sua opereta amazônica, criado por ele, de um lugar imaginário aonde acho que era rei, e que até hoje não foi encenada talvez por falta de patrocínio.

Ainda vou colocar um carimbó nisso. Melhor uma marchinha. Afinal era carnaval...

“FOI ACIDENTE NA AREIA”

(Almir Morisson)

Compositor de Salinas

Chegou todo estropiado

Dizem que o pau da barraca

Quase que cega o coitado

Não foi bem essa a jogada

A verdade veio à tona

Foi a patroa zangada

Que jogou ele na lona

O arranjador foi flagrado

Se arrastando como arraia

Dedilhando os violões

Das barangas lá na praia

E antes que o tal “Nairú”

Escondesse o namorico

Instalou-se um sururu

Na ponta do Maçarico

Primeira dama nem lembra

O barraco estava armado

Sapecou areia e pau

Bem no olho do amado

A quarta virou segunda

Antecipou carnaval

E pobre do violeiro

Teve que ir pro hospital

Cancelou até seresta

Pois já meio envergonhado

Não podia aparecer

Com aquele olho inchado

Virtuose instrumentista

Desafinou o concerto

O seu olho feminista

Agora não tem conserto

Pra todo o mundo contou:

“Foi acidente na areia”

O pau da barraca entrou

No lugar da bruta peia.

No carnaval de 2013 o Gerva resolveu operar de catarata dizendo que os sintomas poderiam ter sido sequela do pau da barraca. Aproveitando a deixa fiz a marchinha prometida.

A cirurgia não rolou até agora (maio), dizem que por “frouxura” do violeiro, com pavor da anestesia. Mas isso já é outra história...