Fui coerente?

Fui coerente?

Noutro dia, meu pai trouxe um recorte de jornal sobre Santos Dumont, o Pai da Aviação. Ele me mostrou o recorte que sinceramente não me lembro mais de que jornal era. Eu perguntei a ele porque Alberto Santos Dumont era o Pai da Aviação? Seo Oswaldo Velho me disse que era devido a esse mineiro genial ter inventado o avião. Eu entendi então que ser pai era também inventar algo, criar alguma coisa ou alguém, ter uma ideia. A partir desse momento, descobri ser também pai. Meu velho descobriu que já era avô há muito tempo e não sabia. Será que alguém sabia das minhas ideias? Dos meus planos mirabolantes de conquistar o mundo? Com certeza, Oswaldo Taperoá não se agradaria dos meus planos de terrorismo. Não sei porque que cargas d’água, o homem descobriu os intuitos do autor deste texto lido por você agora. Você nem imagina o desenrolar da história.

Fui para o meu quarto e, de lá, ouvi minha mãe dizer para o meu pai: “Oswaldo, nosso filho é um menino bom. Está numa idade difícil. Além do mais, ele só quis te agradar mostrando os seus planos para atacar os Estados Unidos. Você vive falando mal desse país para ele. Você mostra o mal como nascido nos Estados Unidos. Ele quis acabar com o seu sofrimento de brasileiro e cidadão do resto do mundo.” Dona Eni acabava de ler meus pensamentos. Ela era mestra nisso. Meu pai se acalmou.

Fomos colher batatas no quintal. Uma goiaba caiu em cima de mim. Não era maçã. Não estava na Inglaterra e me chamo, Oswaldo Eurico, um plebeu tupiniquim. Você acredita? Descobri que katchup poderia não ser de tomates. Gosto muito de tomates. Detesto goiaba madura. O gosto doce do molho horroroso dos americanos só poderia mesmo ser feito com as goiabas roubadas dos brasileiros! Maldito povo do Norte! Um dia eu ainda vou mostrar para eles quem somos de verdade!

_ Vadinho!

_ Sim, pai!

_ Presta atenção! Está no Mundo da Lua! Isso aqui não é Sítio do Pica-Pau Amarelo! Se continuar assim, vou te mandar para a Rússia. Pros campos de concentração da Sibéria!

Eu ficava gelado aqui mesmo em São Gonçalo só de pensar em andar pelos campos gelados daquele país fazendo trabalhos forçados! Meu pai era assim! Sempre prometia me mandar para Rússia ou, às vezes, para as touradas de rua da Espanha. Não poderia me mandar para a Disney? Lá eu sofreria na mão daquela gente devoradora de hambúrguer cheios de katchup e mostarda! Que nojo! Meu pai teve piedade de mim.

_ Oswaldo Eurico! Presta atenção, moleque! Você está pisando nas ramas de batata e recostado na bananeira! Vamos logo com isso que tenho de deixar essas batatas secando para comermos delas no café da manhã de domingo!

Era sexta-feira! Poderia ser da Paixão, mas não era. Então meu pai poderia brigar comigo! Na Semana Santa, ele virava um verdadeiro cordeiro. Nós aproveitávamos para ficar a toa ou para aprontar alguma arte sem sermos castigados.

_ Vamos, meu filho! Filho rico! Ajuda a seu pai carregar as batatas!

Eu apanhava os baldes pela metade e ele carregava os baldes cheios. Minha irmã e meu irmão vinham com algumas batatinhas nas mãos. Todos escoltados pelo melhor pai do mundo! Brasileiro com cara de português, gênio de italiano, firmeza de alemão, pontualidade britânica e amor como o de José da Sagrada Família!

Voei agora sentado na cadeira enquanto preparava um texto sobre coerência textual para minha aluna. Vou voltar a minha disciplina antes dos irmãos Wright tentarem patentear meu texto!

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 06/12/2017
Reeditado em 14/02/2019
Código do texto: T6191818
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