ENTRE TAPAS E BEIJOS ESTAVA O DESEJO, O SEXO E A LOUCURA.

Quando ela chegou do trabalho ele já havia chegado antes dela. O cheiro de comida gostosa impetrava o ar da casa, isso a deixou feliz, ele sabia como a agradar. Foi tomar seu banho, depois jantariam juntos como de costume. Escolheu uma roupa leve, a água escorrendo pelo seu corpo era como uma sessão de terapia que tirava de cima de si todo o peso do trabalho, toda responsabilidade, saiu leve, cheirosa e pronta para aquele momento.

Jantaram juntos, conversaram e foram assistir a um filme do Campanella. “O Mesmo Amor, a Mesma Chuva”, um filme que olha para os insucessos da vida com dureza, sem, no entanto, perder a ternura ou deixar de ter esperança. Assistiram ao filme todo de mãos dadas, aquele mistura gostoso de amor, paixão, carinho e ternura, no entanto, ao término do filme tudo mudou.

Ele não gostou da forma como o filme terminou, ela achou fenomenal e bastou esta fagulha para começarem a discutir. Mas não era conversa simples de gente civilizada não, foi uma discussão ferrenha e que promoveu empurrões, pegadas fortes pelo braço, um agindo descontroladamente com o outro, vizinhos sendo chamados à atenção pela balburdia, tudo aquilo vai acontecendo e os empurrando para o quarto onde, de repente, se reverte na mais pura e intensa excitação sexual.

“E se de dia a gente briga, à noite a gente se ama. É que nossas diferenças se acabam no quarto em cima da cama”, canta Leandro e Leonardo, e assim era o relacionamento deles. Em muitos casais a excitação sexual surge como forma de vingança perante uma atitude sádica trazendo à tona um sexo árido, porém apaixonado e cheio de ternura e a gente se pergunta como pode ser isso possível?

Há muitos fatores por trás dessa atitude, um deles pode estar relacionado à sensação de término que uma briga pode trazer, esta ameaça é transferida para o sexo onde o restabelecimento do vínculo acontece. Assim nasce a certeza que apesar das brigas, o casal pode superar e contar um com o outro, é uma forma de ter o amor cada vez mais fortalecido, como canta Renato Russo descrevendo a relação de seu mais famoso casal Eduardo e Mônica: “E os dois comemoraram juntos, e também brigaram juntos muitas vezes depois. E todo mundo diz que ele completa ela que nem feijão com arroz”.

Só que sexo depois da briga não tem nada a ver com violência doméstica ou abuso sexual. Não se pode confundir discussão com agressão física, em que o agressor ao não ser correspondido se excita com a rejeição e a sensação de luta acaba forçando um ato sexual violento e não consentido. O que estamos descrevendo é a narração da excitação de ambos os lados, excitação exclusiva de apenas um lado com a execução do ato sexual sem consentimento é crime, seja praticado pelo namorado, marido ou até mesmo pela mulher.

Porém, uma das funções do amor é nos ensinar a controlar nossos temperamentos, aprendendo a perder a paciência sem perder o controle e a amar sem subordinar o outro as nossas ideias de mundo e pontos de vista. Ideias podem divergir, o corpo não, este precisa se encontrar o tempo inteiro, nas mãos que se cruzam, nos olhos que não se cansam de se encontrarem e nos lábios que nunca se deixam de se beijarem.

Além disso, fazer amor somente após brigar pode ser uma forma de camuflar o problema real, isso gerará um desgaste na relação causando mágoas em um dos dois, como canta Renato Russo: “Não quero mais brigar esta noite, nossas acusações infantis e palavras mordazes que machucam tanto não vão levar a nada, como sempre”.

Sexo depois da briga é a evidência que há medo da separação, o sexo intenso e forte é o empurrão inconsciente para a reparação e a reafirmação do amor entre os dois, é como se o inconsciente de um dissesse ao outro: A gente briga, mas se ama, e assim vivem na música de Leandro e Leonardo: “Entre tapas e beijos, é ódio, é desejo, é sonho, é ternura. Um casal que se ama até mesmo na cama provoca loucuras”. Vivam a relação com todos os seus desafios, desfrutem totalmente tudo o que a vida a dois tem pra oferecer, só não deixem de aprender e a superar as diferenças e como finaliza a Legião Urbana: “Brigar pra quê se é sem querer? Quem é que vai nos proteger? Será que vamos ter de responder pelos erros a mais, eu e você?”.

Jairo Carioca
Enviado por Jairo Carioca em 09/12/2017
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