INTROSPECÇÃO

Mais uma vez me encontro no mesmo lugar, e como tem sido um lugar comum, estou sentado observando o vento balançar as folhas palmeira e o verdejante gramado estendido a minha frente, talvez sejam estas sejam as únicas coisas que tenho cuidado com certa dedicação dentro da minha casa.

Tudo é repetitivo, já havia alertado em outras situações que sou um sujeito de atos previsíveis, pragmático. Talvez por isso os atos que destoam da previsibilidade causem tanto espanto.

A única coisa que ouço é um silêncio estridente, perturbador, bem menos perturbador que algumas vozes, confesso, contudo, igualmente desagradável.

Ao fundo, distante, se ouve, quase ao infinito, o cantar de alguma ave noturna, não sei se de rapina ou uma daquelas que as pessoas julgam agourentas.

Duvido que exista criatura mais agourenta do que o homem!

Trago, de par em par de minutos, uma cerveja que encontrei por acaso na geladeira - imaginava não restar mais nada. A cada gole dado esta parece se tornar intragável. Mesmo assim é o quem tem, então a viro por completo – “tomara que ainda restem outras escondidas na bagunça”.

E penso, penso em demasia.

O silêncio as vezes é irritante, sobretudo quando as vozes que habitam o íntimo não calam.

A solidão também é irritante!

Que afirmativa irônica, logo eu que sempre defendi que a solidão faz bem, mas, afinal, o que não se torna ironia na vida se transforma em tragédia.

Nessa introspecção volta e meia sinto um nó na garganta, os olhos inundam e um sentimento de vazio me abate. Procuro um motivo para esse fenômeno, contudo não me parece que seja um em específico, na verdade são tantos.

Muita coisa me perturba.

Penso, penso muito, penso em uma conversa sincera que tive com uma amiga e reflito sobre sua dor, reflito sobre várias dores. Penso que, em maior ou menor intensidade, todos carregam uma dor.

Qual tem sido a sua dor?

Sempre acreditei que a vida fosse sofrimento, mas não mensurava quanto sofrimento cabia na vida, em uma vida.

Ahh, não quero pensar nisso!

Procuro um cigarro, quem sabe na bagunça encontre algum perdido e com a fumaça maligna eu possa me abstrair fazendo com que os pensamentos cessem. Lembro de súbito que os abandonei em algum lugar e que seguramente sequer existam mais. Gostaria eu ter o mesmo destino.

Não me resta mais nada a não ser me conformar com o que tenho: o silêncio, uma ou outra cerveja passada que a geladeira me presentei e os pensamento que fervilham dentro da minha cabeça.

Não me resta mais nada, por hoje, pelo menos por hoje não me resta mais nada.

***

Enquanto isso outros são felizes!

"Tire o seu sorriso do caminho

Que eu quero passar com a minha dor"...

Hugo Carvalho
Enviado por Hugo Carvalho em 10/12/2017
Código do texto: T6194800
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