O Youtube nosso de cada dia... A sociedade desdatada

Por Gustavo Pilizari

Houve um tempo, não muito distante, em que as pessoas esperavam ansiosamente, no decorrer de uma morosa semana interminável, para assistir a mais um novo episódio de uma novela ou série televisiva de sua preferência... A espera demarcava um período de sete dias, 168 horas, noites e dias; a mente eclodia de tanta reflexão sobre o episódio seguinte a ser acompanhado, de uma série de outras passadas semanas... o decorrer das segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos eram vividos na comunhão com outros amigos e amigas que acompanhavam tal série ou novela, e com este tema, atravessavam o ano todo discutindo o que viam durante um episódio de 30min ou no máximo uma hora... no entanto, este episódio semanal, dava todo o sentido da vida para muitas pessoas, era objeto de conversas e reuniões...

Isto parece não ser verdade, mas já aconteceu numa época não muito distante... ainda acontece, mas muito mudou...

A Sociedade Youtube é um fenômeno com menos de 10 anos de vida, com um currículo invejável na História das comunicações humanas - nunca antes o homem pode sentir-se tão feliz por passear num passado, presente e futuro num único espaço frente ao computador, chamado youtube... o fenômeno youtube permitiu à massa humana sentir-se indescritivelmente Unus Mundus, um estranhamento desdatado (sem data, época)... a partir da concepção youtube, temos o privilégio de resgatar, reviver uma camada de nossa vida, que até então achávamos perdida para sempre, estando apenas em nossa memória.

Ora, o que estou dizendo é que o ser humano vive de imagens e sons; e quantas não foram as ocasiões em que numa conversa de amigos, nós tiramos do fundo do baú temas como: você lembra daquela novela? Daquele desenho animado? Daquele videoclipe? E daquele comercial?

Com certeza, todos nós - ou durante a infância, ou na adolescência, ou num período em que a internet não existia com assolada penetração, não nos tivéssemos imaginado revendo programas, desenhos, videoclipes, comerciais que tanto marcaram a nossa vida e, num certo grau, moldando-nos na forma de ser, agir, ou direcionando-nos à busca de um exemplo de vida...

Eu mesmo, quando criança, parava o que estava fazendo para assistir os Muppets Baby, ou o desenho mais genial já criado, o Snoopy... Quantas e quantas vezes eu não me questionei do porque destes desenhos não passarem mais na TV! Quanta saudade tenho ou tive destes episódios... isto mudou!

Com youtube, a minha vida mudou, e a de muitos também! Quando quero, ao toque de segundos, posso acompanhar estes desenhos animados que tanto marcaram a minha vida! Nada pode ser mais fascinante do que a Sociedade Youtube que nos coloca em revival de nós com nós mesmos, nos aproximando de um passado impossível de ocorrer se não fosse o youtube... Hoje, podemos voltar quantas e quantas vezes quisermos o mesmo vídeo, recriando em nós um recordo alumbrado de épocas de vida que teriam sido perdidas não fosse a internet...

E não é só isto: tínhamos de esperar frente a TV a semana todo para tentar assistir a um clip de cantores de que tanto gostávamos, e quando ocorria de passar, os 4min voavam sem chance de voltar nos próximos dias... Hoje, tudo aquilo que não pude acompanhar de um grupo ou cantor tenho na ponta dos dedos - posso criar uma videoteca com todos os clipes perdidos num tempo, o qual nunca teria podido ver ou rever se não fosse este fenômeno...

Nesta Sociedade Youtube, são muitos os pontos bons a nos confortar diariamente, por trazer de volta o gostinho do que estava perdido; todavia, em outra direção, nunca fomos tão inimigos do tempo! Ninguém parece ter mais paciência para esperar o próximo episódio de uma série, ou melhor, é muito mais fácil baixar todas as temporadas e assistir de uma única vez - fato inédito: o que levaria 10 anos, hoje, um jovem leva 10 dias para assistir todos os episódios... o mal do século quiçá seja este: adiantamento massivo do tempo a todo custo!

Nunca nesta História, fomos tão passado e presente e futuro juntos!

Gus Pilizari
Enviado por Gus Pilizari em 10/12/2017
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