Marcos imaginários para renovação

Sempre fui muito sonhadora. Dessas que têm um mundo escondido dentro da cabecinha e que, quando a coisa aperta, esse espaço se transforma num refúgio. Isso pode ser ótimo e ao mesmo tempo perigoso, pois dá chance de não prestarmos atenção a certas realidades que precisam ser encaradas.

Mas o tempo foi passando e, aos poucos, esse refúgio ficou cada vez mais distante. E comecei a ficar um pouco cínica. Naquele momento, achava que esse cinismo era um lugar seguro, o que também era uma ilusão. E quando percebi isso, foi um baque. Porque aquela não era uma crença minha, foi construída externamente. E hoje percebo que ter sonhos faz parte da minha personalidade e é uma característica que não deve ser deixada para trás. O que eu precisava era de equilíbrio.

Aí vem o final do ano. Os cínicos dirão que essa passagem nada mais é do que uma invenção e que não há renovação nesta ruptura. Eu discordo e acredito que essa alteração pode acontecer e que isso só depende de nós. E às vezes é a "ilusão" do recomeço que dá o ânimo necessário para que essas mudanças sejam iniciadas.

Para mim, esse último ano foi de autoconhecimento. Não foi fácil e, como disse Jung, não há despertar de consciência sem dor. Ele disse também que faremos de tudo - chegando aos limites do absurdo - para não enfrentarmos a própria alma e que ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por se tornar consciente da escuridão. Esse tem sido meu mantra nos últimos meses.

Ao tornar-me consciente, descobri mais sobre mim e sobre onde quero chegar. Acordei, despertei. Uma vez li que precisamos de marcos imaginários para renovação. E, ao final de cada ciclo, isso se torna imprescindível. Sou grata pelos recomeços. Para uma sonhadora, eles são essenciais.