***O VELÓRIO DO MORTO VIVO***

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Numa cidadezinha do interior do Est. do Rio (RJ), todas as tardes, após um longo e exaustivo dia de trabalho, um pequeno grupo de jovens, se reunia num gramado, ao lado da igrejinha do local.

Eles discutiam os acontecimentos do dia, até porque, quase nada se tem para fazer em lugarejos como estes.

Falavam sobre tudo, contavam piadas, comentavam sobre as garotas do local, belas porem poucas, a vizinha que deixou o marido, a falta de meninas na cidade, o baile de sabado a noite. E neste caso o comentário era maior, já que havia mais rapazes, que moças no baile, e sempre era motivo de brigas..

Entre eles, havia um rapaz que gostava muito de contar mentiras, para os amigos se divertirem, não que o fazia por mau, tudo não passava de brincadeiras. As vezes aprontava cada uma, que os amigos, ja estavam ficando acostumados com suas balelas.

Para ele sempre era como um "primeiro de Abril", e no final se resolvia, já que eram todos grandes amigos.

Um belo dia , a tardinha, quando o sol se escondia por trás dos montes, e a noite se aproximava lentamente, trazendo paz aquela cidade, lá estavam o grupo reunido nas suas pilhérias e risos.

Neste momento surge na curva da estrada, o amigo brincalhão, com ares preocupado. Vendo que ele não parava, um dos amigos, o chamou.

-Miro.. desce ai rapaz; pra onde vai com tanta pressa? vem contar mais uma se suas mentiras. No que o outro respondeu sem parar.

-Sinto muito amigo...hoje não posso. Tenho que me trocar urgente para o velório do nosso amigo Augusto, que faleceu hoje pela manha.Vocês não ficaram sabendo? - e seguiu rápido para casa, sem esperar pela resposta dos demais.

Os amigos ficaram muito triste, pois tratava-se da morte de um grande amigo. Conversaram mais uma meia hora, planejando a ida ao velório, e que achariam melhor, que fossem todos juntos.

A casa do falecido era muito longe, e se fossem pela estrada, chegariam em dois ou tres dias. Assim iriam todos por um atalho, que sabiam existir, dentro da mata. Montados em cavalos, atravessariam pequenos riachos, e chegariam pelo amanhacer podendo prestar então, suas ultimas homenagens ao grande amigo falecido, já que no dia seguinte era domingo, e ninguem trabalharia.

Decidiram todos irem para suas casas, preparar suas montarias e pegar estrada imediatamente, ou melhor,a mata.

Quando todos estavam prontos, resolveram passar na casa do Miro, para que fossem todos juntos, sabendo-se ter sido ele a lhes trazer tão triste notícia.

Ao chegar em sua casa, foi informado que ele já tinha partido, pois pretendia chegar o mais cedo possível, no velório do amigo.

Estranharam, mais não disseram nada, afinal, Miro conhecia Augusto a mais tempo, inclusive foram vizinhos quando ainda crianças. Naturalmente, entenderam de imediato a dor do amigo, e não deram a devida importância, ao fato de te-los deixado para trás.

Iniciaram a caminhada nos lombos dos pobres cavalos, que pouco tinham descansado, já que eram eles, o único meio de transporte, para leva-los ao trabalho.Trabalhavam todos, numa fabrica de farinha, um pouco distante da cidadezinha.

Cabisbaixo e pensativos, iam todos no mesmo passo.

Durante a cavalgada , não encontraram o amigo pelo caminho. Talvez devido ao fato dele, o Miro, ter maior conhecimento do local,poderia ter escolhido outro atalho,que o faria chegar mais rápido.

E continuavam a cavalgar, noite a dentro. Já estavam exaustos, porem satisfeitos, por poderem estar todos juntos no velório, e assim se despedir do amigo, que quase todos os domingos, fazia este mesmo percurso, para estarem, reunidos. Nos sabados que não tinha baile, sentavam para uma cerveja, ou mesmo no gramado a prosear. O que importava mesmo era a união e o prazer da companhia.

E assim as horas foram passando, enquanto eles se lamentavam, pela perca, do grande amigo.

Ao mesmo tempo, relembrando fatos engraçados, que sempre aconteciam entre eles.Desta forma o tempo ia passando, e o cansaço era superado.

Lá pelas 5:00 horas da manhã, avistaram ao longe a casa do amigo, e apressaram os passos dos animais, para que chegassem mais rápido.

Entretanto, ficaram chocado, com o que estavam a ver. A casa estava toda as escuras... não se via um único movimento.. ou luz de velas, que pudesse lembrar um velório. Nada....o maior silêncio pelas vizinhaças. O único barulho era as patas dos cavalo, que por já se encontar perto da casa, diminuiram a marcha.

Estavam comentando, na possibilidade do corpo estar sendo velado em outro local..mais onde?? e como iriam saber agora?..

O melhor, era tentar saber, se tinha alguem em casa que pudesse dar uma imfomação. E assim fizeram..

- Tem alguem em casa?....perguntou Paulo, que era o mais velho do grupo.. ?...alguem nos pode dar uma informação? ..insistiu ele..

No interior da casa, uma luz se acendeu, e um barulho de ferrolho se ouviu.

Na porta aberta, apareceu um vulto de homem. Na pouca claridade do lampião não dava para distinguir de imediato quem era, mais dava para ver perfeitamente a espingarda apontada na direção dos rapazes..

Uma vóz ainda sonolenta mais cheia de raiva, perguntou.

- Quem está ai?..Isso lá são horas de acordar alguem? seus filho de uma cadela....

O susto ao reconhecer a vóz, foi tão grande que quase cairam do cavalo.

Com certeza aquela era a voz do amigo Miro...ali.. vivinho da silva, e ainda por cima com uma espingarda apontada para eles.

Quando conseguiram se refazer do susto, pediram desculpas, e disseram que tinham recebido uma triste noticia de sua morte, e que ali estavam para prestar suas condolências a viúva, e acompanha-lo em sua ultima morada.

Soltando uma estrondosa gargalhada perguntou..

- Mais qual o filho de uma égua que disse tamanha barbaridade?, se aqui estou vivinho ....disse Algusto voltando a indignar-se, e convidando os amigos, a descerem de suas montarias.

- Foi Miro..respondeu Paulo.

A raiva dos outros era tamanha, que a única coisa que eles conseguiam, era brasfemar e prometer uma grande vingança, para o amigo mentiroso.

- Após tomarem café e descansarem por umas 2:00 horas, retornaram pelo mesmo atalho.

Todos tinham uma forma de vingança em mente, para o amigo, (que agora não tão amigo), mais que precisava de uma boa lição, por tamanha falta de respeito. Como pode brincar assim com a vida de alguem, e este alguem, sendo seu amigo.

Agora pensavam todos, que desta vez, tinha deixado de ser uma brincadeira, igual as que ele tantas vezes aprontava.

Desta vez, ele ultrapassou os limites, isto é simplesmente uma falta de respeito, diziam todos. Onde já se viu, fazer os amigos viajarem durante uma noite inteira para um vélorio que não existia..

-Realmente... desta vez ele ultrapassou, dizia um.

- E verdade!! concordavam os demais.

Quando chegou as 22.00 horas, começaram a avistar as primeiras casas, do povoado, e decidiram ir direto na casa de Miro. Não que iriam castiga-lo aquelas horas. Iriam apenas tomar uma satisfação.

Quanto a vingança, deixaria para mais tarde, onde pretendiam preparar algo, que faria com que, Miro nunca mais brincasse daquela forma com os amigos. Quando deram por si estavam em frente da casa, que ao ouvir o tropel de cavalos, o próprio Miro veio abrir a porta.

- Estava esperando por vocês.... disse ele sorrindo, ao que respondeu Paulo... o mais sensato de todos..

-Sabiamos que sim..pois a sua irresponsabilidade não tem limites..como pode fazer tão grade piada com a vida do próprio amigo?..

- Eu não fiz piada com a vida do meu amigo..vocês me chamaram para contar umas mentiras, como todas as vezes que passo. Quando tenho tempo eu paro, afinal..... rimos todos juntos ..só que ontem eu estava

com muita pressa, e ainda tinha que terminar alguns trabalhos aqui em casa. Assim sendo, e resolvi contar uma mentira rápida, de cima do cavalo mesmo. Não sabia que vocês iriam levar tão a sério...Agora não podem me acusar de nada..e nem ficarem com raiva..

Sei que estão suados, cansados e irados, porem todos vivos e salvos, inclusive o meu grande amigo Algusto.

E reconhecendo, que foram eles mesmos que pediram a tal mentirinha, resolveram perdoar o amigo, e prestar mais atenção, em suas piadas, para que não voltasse a acontecer uma outra vez..... pegos no (conto do vigário).

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RSGLisboa
Enviado por RSGLisboa em 23/08/2007
Reeditado em 23/08/2007
Código do texto: T619892
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