NO SILENCIO DA NOITE UMA ORAÇÃO...

Toco sua pele com mãos indecisas. Sua alma amargurada tenta adormecer. Na angústia me pediu uma oração. Seguro as pálpebras pesadas. Não posso dormir. Preciso rezar.

Não é fácil ser forte, ter fé, quando as próprias forças se esvaem. Será que algum dia tive fé? AH! Como eu queria ser forte. Ter a alma boa. Generosa.

Não sou perfeita. Nem pretendo ser. Seria petulância querer. Minha alma tem tantas sombras. Mas queria que minhas orações chegassem ao céu. Não por mim. Mas por essa alma que se atormenta pelas tribulações da vida. Por essa derme tensa que meus dedos tocam. Por esse coração latente, cujas batidas posso sentir na veia que passa sob meus dedos, como se ele fosse um estetoscópio clandestino.

Sinto-me sozinha buscando uma oração quase sem nexo em palavras silenciosas. Repetidas. Sentidas. No silêncio da noite rompeu uma oração... Queria que ela voasse além do infinito. Queria que ela pousasse no céu. Qual borboleta sobre a flor. Na urgência do perfume. Na avidez da paz. Retornasse em toque Divino. O envolvesse. Sem interrogações. Cobranças. Destinos traçados.

A oração está feita. Dormiu. Sereno. Virei-me e a insônia me acompanhou. Mas valeu a pena.

Fiquei pensando que a noite trás a certeza de tantas coisas. A esperança de tantas coisas. O olhar de Deus é complacente. Suas mãos na penumbra da noite rompem nossas grades de aço. Hoje eu senti seus passos. A leveza de suas mãos a fechar minhas pálpebras e as suas. Agora sei que minha oração chegou ao céu.

Ao lado você dorme no seu casulo frágil qual bicho da seda. Amanhã será borboleta buscando a perfeição nas pétalas da paz. Amanhã será um novo dia. Talvez sejamos novos seres... Na esperança, adormeço...

Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 23/08/2007
Reeditado em 09/12/2008
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