E O DENTISTA CHEGOU!

Naquele final de ano, na década de 30, na Vila de Calambau, o comentário geral era de que chegaria um dentista que iria morar na Vila.

A maioria dos habitantes nunca vira um dentista,antes. Alguns, que conheceram um dentista de Piranga, nas poucas vezes que lá foram consultá-lo, voltaram com informações pouco animadoras.

O Sô Virgílio, que foi até lá para acabar com uma dor de dente crônica, relatou o seu martírio: uma agulha foi espetada próxima ao dente para aplicação da anestesia.Para arrancar o dente foi usado o boticão, uma espécie de alicate.Os ouvintes arregalavam os olhos e parecia que já estavam sentindo as dores, o que levou o Chico Batista a comentar: - Ferramenta nenhuma entra na minha boca.Se meu dente doer, eu aplico leite de “esperta” (uma planta da qual sai uma seiva branca) e a dor passa!

O Padre, nas missas dominicais, já ensinava a população como cuidar dos dentes.Dizia, também, do mal que os dentes estragados faziam à saúde.

O dentista, que veio de uma cidade da região, alugou um cômodo na Rua São José onde instalou o seu gabinete.Os clientes foram aparecendo aos poucos e, depois de um certo tempo, começaram a encomendar até dentaduras. Isto levou o Mané Paca a comentar com o Chico Piaba: ”A vantagem da tal dentadura é que, se um dente doer, a gente a retira da boca e, depois que a dor passar, ela é recolocada”.O Chico que não era de acreditar muito no que ouvia, apenas resmungou: -Será?

O dentista que já estava famoso na região, ia para as fazendas, atender a família do fazendeiro e seus empregados.

Zé Alcides foi um dos primeiros a levar o dentista para atender em sua fazenda, o que fez com que o Padre, nas missas do domingo, desse o seguinte aviso:- O dentista ficará uns dias na fazenda do Zé Alcides para atendê-lo, sua esposa, e os seus descendentes.

No outro dia, o Alcides foi tirar satisfação com o Padre, por chamar os seus dez filhos de banguelas.O Padre lhe explicou que havia dito que o dentista iria atender os seus descendentes, isto é, os seus filhos, e não os seus “dez sem dentes...”

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau ,janeiro/2018

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 18/01/2018
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