LÁGRIMAS E LEMBRANÇAS.

Nesta terra as manhãs não são sempre as mesmas, não é a mesma rotina de sempre, e as personagens de todos os dias são magníficas. Transeuntes apressados rua acima e rua abaixo, uns a caminho da feira, outros, a caminho do mercadão, enquanto os mais velhos, na maioria deles aposentados, ficam pelas praças, trocando relógios, jogando conversa fora em diálogos que rememoram os velhos tempos.

A feira, a principal atração daqui, fica no centro da cidade, é a parte mais movimentada de toda a ela; estende-se de um quarteirão a outro em um espaço quadrado gigantesco, é também a maior entre muitas cidades circunvizinhas. Os feirantes se amontoam, quase invadindo o espaço uns dos outros, a gritaria na intenção de chamar a atenção da freguesia é constante, apesar da aparente baderna, que por vezes assusta os mais desavisados, é para os moradores locais coisa corriqueira. Seu João é o dono da primeira barraca, logo no início da feira, que começa na rua lateral a uma avenida. O artesanato atirado ao chão, entre as pessoas que passam apertadas por um pequeno corredor humano, para tanto que, conseguir passar por ali, é quase um milagre, tamanha multidão que fica em seus entornos. Logo inicia-se uma longa fila de barracas de roupas, de todos os tipos e gostos, tamanhos e cores, um verdadeiro carnaval. Impossível não se encantar com tanta diversidade, e com uma cultura tão particular e bela.

Um pouco mais a frente, vemos as barracas de bugigangas - permita-me descrever assim esse espaço em especial, onde se encontra de tudo o que sua imaginação puder ou não imaginar - Eu gosto desse espaço, nele encontrar boas ferramentas que se utiliza no dia a dia entre tantas outras coisas úteis e inúteis também. Outro espaço muito disputado, é a área de artesanatos; esse espaço reúne mais de trinta barracas, seus donos, pessoas simples, de pouco estudo, mas de um conhecimento indescritível. As talentosas mãos desses artistas nunca param, estão sempre em movimento, sempre fazendo alguma coisa bonita.

Passei boa parte da manhã na feira, andando de um lado e de outro, maravilhado-me com tantas belezas de encher os olhos e de alegrar a alma. Quase à hora do almoço é que resolvi voltar para casa, ou melhor, para casa do meu cunhado, comprei varias coisas, pequenas lembranças para os amigos e os familiares, considerando a família numerosa, bem como os amigos, imaginem, o carro quase não comportou tantas coisas.

A marca de um povo é a sua cultura, nela, e através dela, podemos ver a verdadeira riqueza dele. Eu pude testemunhar o quão rico é o povo Alagoano. A alegria de cada um, a espontaneidade de cada um, a dedicação em querer fazer sempre o melhor para os seus visitantes, certamente que isso tudo deixou-me, como dizem por aí, " De queixo caído."

Hoje, exatamente hoje, décimo nono dia de 2018, relembrando daquela viagem que fiz a São Miguel dos campos em Alagoas, sinto o meu coração apertado de tanta saudade, desejoso em retornar para uma visita. Quem sabe mais para frente, quando as coisas estiverem melhor… Hoje também completei nove meses desempregado, por força maior, tornei-me autônomo, esse é o caminho, e por enquanto não há outro. O beija-flor, aquele mesmo de outrora, bom… Como sempre, está em todos os lugares, e em nenhum ao mesmo tempo, depende muito da minha imaginação.

Existe um muro de vidro

Um grande muro entre nossos lábios

Impedindo nossos beijos

E matando nossos sonhos e desejos

Ao me ver nesse espelho

A nua imagem sem reflexo

O olhar miúdo e complexo

Disforme e sem nexo

Então uma lágrima solitária

Desce em minha face ligeira

Despretensiosa sorrateira

Meu coração tolo se angustia

E os lábios sem teus beijos tremem

Ao ver a lágrima morrer na terra fria

Coleciona as lágrimas o beija-flor da primavera.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 19/01/2018
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