“Que Brasil você quer para o futuro?”. Esta é pergunta que a Rede Globo de televisão está lançando aos brasileiros, neste ano de 2018, às vésperas das eleições, quando já batem à porta os primeiros apelos de campanha, na corrida pelo voto que decidirá mais uma vez os destinos da Nação, e o povo escolherá um novo Presidente, Governadores, Senadores e Deputados.

 Segundo as instruções da emissora, o cidadão deve escolher um ponto representativo da cidade onde mora, e ali gravar no celular um vídeo relatando suas expectativas para o País no futuro. Para que tudo saia a contento, a Globo não tem economizado em divulgação: repórteres em toda parte do Brasil, explicam como deverá ser gravado o vídeo. A ideia é reunir e levar ao ar a manifestação dos 5.570 municípios que compõem a Federação.

Eu não mandaria um vídeo desta natureza para a Rede Globo, mas  penso no que diria  sobre  “Que Brasil eu quero para o futuro?”. A primeira coisa que me vem à mente é “Um Brasil sem corrupção”, e talvez seja esse o tema que bate record nesse momento crítico pelo qual passamos. Que nosso País tem uma infinidade de problemas é certo e notório, mas, de imediato, penso apenas no quanto eles estão intrinsecamente ligados ao caos político e governamental reinante na atualidade.

Pois bem, afora as mazelas deste nosso torrão, acredito que somos unânimes num ponto: nós amamos a Pátria que nos viu nascer e crescer. Essa terra que abrigou nossos antepassados, e continuará a abrigar nossos descendentes, é nossa referência primeira. Como não amá-la profundamente? Faria sentido trocá-la por outra, quando os próprios brasileiros a transformaram um lugar inviável para se viver?

Nossos problemas de ordem maior estão por toda parte: Educação, Segurança, Transporte, Trabalho, Saúde, Habitação, Previdência Social, num resumo geral, ocupam extremos infinitamente distantes dos padrões mínimos de qualidade e dignidade esperados. Sabemos também  quanto peso representa neste quadro, as malhas da gigantesca rede de corrupção que se instalou de forma generalizada em nível Nacional — nunca se viu tanta falcatrua, tanta maracutaia, tanta lei sendo burlada e manipulada, tanto político sem escrúpulo, tanto desaforo na cara do povo, tanta desfaçatez e falta de vergonha. E não sabemos da missa, a metade. Por debaixo dos panos há muito mais sordidez que alcançamos  imaginar.

Portanto, o brasileiro anda sem expetativas para o futuro, essa é a verdade. A mudança pelo voto já não acende nem mesmo uma pequena chama de esperança, pois exemplos mostram que quando o assunto são as rodas das governanças, tudo sempre recai na mesma: mudam apenas os atores, ou na maioria das vezes nem mudam. O jogo do poder é marcado, fechado, absoluto e o povo nem tem mais a ilusão de conseguir mudá-lo. Que eleições teremos em 2018? Quem elegeremos para nos governar? O cenário político não nos anima e a descrença em nossas figuras representativas, de maneira geral, é desmotivante e desoladora.

Agora, querem que os brasileiros falem de seus anseios, de futuro. Mas, quem está interessado em saber o que queremos para o Brasil, a não ser nós mesmos, cidadãos anônimos e comuns, dos mais distantes rincões deste nosso vasto e rico continente ? Pois, vejamos o que dirão os brasileiros e brasileiras na telinha da Globo. Será, no mínimo, deprimente, ouvir o gigantesco grito de desabafo de nossa gente, restrito a míseros quinze segundos — tempo em que não se recita um simples poeminha de quatro versos.

Juro, eu gostaria muito de escrever algo mais positivo, que falasse de fé e esperança, mas é de duvidar que esse gritão nacional consiga sacudir a consciência dos que se apossaram, ou querem se apossar, do Brasil. Nossos futuros candidatos estão nem aí para os anseios (ou puxões de orelha) de seus eleitores. Ou alguém ainda acredita que estão? Esse filme nós já vimos: tudo termina com o voto na urna.