XXXI -O Primeiro Voo de Helicóptero a Gente Nunca Esquece!

Ana Esther

23 de janeiro de 1986, a Mochileira Tupiniquim tem uma das páginas mais fabulosas do seu super Diário! O seu primeiro voo num helicóptero... O coração batia a mil, não tinha com quem dividir tanta emoção. Voar de helicóptero para ela era algo ou das Mil e Uma Noites ou de ficção científica, mas nunca do seu dia-a-dia. Tão distante do mundo normal que nem chegara, até então, a ser um sonho seu. Contudo, essa irrealidade total, neste gelado mês de janeiro estava por se concretizar.

Lá ia a Mochileira a pé para o heliporto. Não apenas para economizar a passagem de ônibus, mas principalmente para ir gastando a adrenalina, ir acalmando a ansiedade. O dia ensolarado tirara de vez a dúvida atroz se o passeio sairia ou não, pois havia a possibilidade de cancelamento caso ocorresse neve ou chuva. É, andara nevando bastante nos dias anteriores... Ah, sim, a Mochileira Tupiniquim sobrevoaria nada mais nada menos do que a mundialmente cantada, a encantada New York City!

Uma vez chegando ao heliporto, mostrou o seu ingresso ao pessoal da empresa dos voos. Quando a viram ali sozinha, avisaram-na de que menores não poderiam voar desacompanhados. Ela precisou mostrar seu passaporte para convencê-los de que não era menor de idade... Aliviada, após quase perder seu helicóptero, recebeu tratamento VIP-carinhoso do piloto por ser uma brasileira solitária em Nova Iorque. Havia mais cinco ou seis turistas para o passeio. Porém, ele reservou o assento a seu lado para poder conversar melhor com ela. O voo já estava começando bem!

Com tanta paparicação, bateu o medo na Mochileira Tupiniquim quando o piloto colocou para ela o sinto e o afivelou, depois foi apertando os botões no painel de controle do helicóptero, perguntou aos passageiros se estavam prontos... Ela começou a tremer toda! Ao medo seguiu-se uma vontade enorme de desistir daquela loucura. Porém, com um piloto tão gentil, como desistir de uma aventura aérea tão inusitada e maravilhosa como aquela. Nem morta. Respirou fundo, abriu um sorriso e já estava pronta para o voo.

O piloto ligou o motor do helicóptero, as hélices começaram a girar... e a cabeça da Mochileira também. Num instante já estavam no ar. Nova Iorque surgia aos poucos sob um ponto de vista inimaginável para a Mochileira Tupiniquim que economizava na comida (às vezes pulando refeições, passando os dias a fatias de pão de sanduiche sem nenhum recheio), andando a pé para não gastar... tudo para poder viajar! Nem carro a Mochileira tinha no Brasil, sua vida era movida a ônibus, e agora lá estava ela voando de helicóptero sobre uma cidade belíssima, famosíssima cobiçadíssima, superlativíssima! Apreciou o Rio Hudson, Manhattan, o Central Park, a Estátua da Liberdade envolta em andaimes para manutenção da estrutura, pontes, prédios como o das Nações Unidas, o histórico Empire State Building, e também o finado World Trade Center... Tudo lá do alto, como merece a incrível New York.

Foram apenas minutos. Mágicos! Minutos que marcaram a vida da Mochileira Tupiniquim, como? Mostrando a ela que sonhos existem para serem realizados e que ela era uma viajante sonhadora de verdade. Daquele voo de helicóptero em diante, a Mochileira Tupiniquim soube que em seu destino haveria muitos momentos como aquele, yuhuuuu!

De volta ao heliporto, ela agradeceu emocionada ao piloto tão atencioso com ela, disse que seria grata a ele para sempre por tanta felicidade –e é verdade, não é... afinal, após tantos anos ela está escrevendo sobre esta gentileza do piloto do primeiro voo de helicóptero da Mochileira Tupiniquim! Com um baita sorriso no rosto, ela foi a pé, com os pés bem no chão, até o seu próximo destino: o prédio das Nações Unidas.