“SOPA DE LÁGRIMAS” (IN MEMORIAM)

ESTA CRÔNICA É BASEADA EM FATO REAL. O TÍTULO FOI EXTRAÍDO DA FRASE DO PAI DE UMA DAS VÍTIMAS DO ACIDENTE DA TAM DIA 17/07/07, EM SÃO PAULO.

MEU PREITO A ESSE PAI, A SEU FILHO E A TODOS OS QUE LÁ PERDERAM SUAS VIDAS, BEM COMO ÀS RESPECTIVAS FAMÍLIAS.

O relógio marcava 17:30min. Quando o telefone tocou, a mulher já sabia quem era. Atendeu. Um largo sorriso iluminava-lhe o semblante.

"Mãe? Faz pra mim aquela sopinha que só você sabe fazer tão bem”?

Olhos brilhantes de satisfação, a mulher aquiesceu feliz. Tão logo desligou, pôs-se a separar os ingredientes para a sopa. Sorriu novamente. Ainda "ouvia" a voz do filho.

Por volta das 18:30 ligou a tv enquanto cozinhava. O silêncio da casa foi quebrado pelo som de gritos e sirenes. Eram 19hs. Imensas labaredas lambiam as paredes do prédio em que o Airbus da Tam se chocou. Explosões sucessivas aumentavam as chamas. Gigantescas cortinas de fumaça negra dificultavam a visão dos bombeiros. Horrorizada, pensou no filho e sentiu um forte aperto no coração. Grossas lágrimas saltavam-lhe dos olhos e caiam diretamente na sopa que, num gesto mecânico, ela ainda mexia.

Seguiu-se outra explosão e o fogo tomou conta de todo o prédio onde seu filho trabalhava. Correu para o telefone e, trêmula, discou o número do rapaz. Um apito, nada mais.

Tresloucada, ganhou as ruas, correndo sem rumo. Os vizinhos bem que tentaram, mas não conseguiram detê-la. Através da porta aberta quem passasse podia ouvir a tv ligada.

No fogão, a sopa fria...

Miriam Panighel Carvalho

Miriam Panighel Carvalho
Enviado por Miriam Panighel Carvalho em 26/08/2007
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