QUANDO O AMOR AMORNOU

Reaquecer um amor amornado é via de mão dupla. De nada vale um lado se encharcar de boas intenções se o outro virar pedra, se estatuar. Mas mesmo com essa manada de apatias, o outro, teimoso como só ele, não vai se cansar de mostrar caminhos de volta, paisagens nem sempre degustadas como gostaria. A vida por vezes deixa a gente meio anestesiado pra essas fagulhas do coração. Enferrujamos alguns desejos e algumas vontades que, tempos atrás, gritavam pra todas as galáxias: tô aqui, tô aqui, tô aqui!!! Algumas coisas se flacidam, arredam pé daquela robustez que, saudade, dava gosto de ver e sentir. Isso traz certa vontade de abaixar as cortinas, principalmente naquelas horas em que deveria protagonizar. Mas, convenhamos, existem outros enredos pra fazer o prazer reestrear, a experiência da vida é pós-doutorada em sugerir novos passos, novos ritmos, novos jeitos de aprazeirar o casal. As pisadas na bola e erros de percurso deixaram um lado com pé atrás, desconfiado dessas novas investidas, com certo gosto de filme já visto várias vezes. Mas, quem não já mijou fora do penico? Quem já não fez bobagem nessa caminhada maluca chamada de vida? Deixar o perdão se aconchegar, enterrando o que devia ser enterrado, esquecendo o que devia ser esquecido, faz bem pro sangue, pros ossos, pros quatro cantos da alma. Mas tem gente que fica tacanha, não atende a porta quando o outro vem bater, finge que tem bem mais do que fazer. Cada um sabe o que sente e o que espera do outro depois de séculos compartilhando lençóis, chãos e rotinas.O outro, apesar de estar transbordando de boas intenções, pode cansar de gritar e não ouvir o eco de volta. O outro pode, num desses marasmos sem trégua, se desanimar de tentar emendar aquela liga meio rompida, meio rebarbada. E aí pode fazer besteira, reunindo seus trapos, virar de costas e sair estrada afora. Por isso é legal não ficar eternamente deixando de dar bola pros suores que brotarem na tentativa de ficar de boa de novo. Tudo tem limite e não dá pra saber quanto de corda tem esse velho relógio. Dar uma chance pro acolhimento, pro reencontro, pro refazer da história é legítimo e não vai exigir tanto assim. Depois será só colher os frutos que o embranquecimento dos cabelos guardou pra aquela escolhida entre todas mulheres do mundo. E usufruir desse legado tão privilegiado no tanto de vida que ainda há por cumprir. Tanto mesmo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 10/02/2018
Reeditado em 10/02/2018
Código do texto: T6249975
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