Novilha desgarrada

Meu amor é novilha desgarrada,

meio chamuscada,

meio banida de si mesma.

Vive atrás de teta farta,

nunca sossega de ser assim.

Bicho teimoso, ranheta, esquisito, dessossegado.

Conhece cada pedaço de seu chão,

que faz questão de assustá-lo toda hora,

estremecendo meus passos com insana alegoria.

Meu amor acaricia sem medo,

arregaça as unhas, arrepia os poros,

faz o diabo com o que vasculha cada coração.

Meu amor é arteiro, bagunça tudo em volta,

desarruma meus sentidos sem pena,

arruaça o que tenho de certo, de compreendido,

de encantado, de compartilhado.

Meu amor revira do avesso meus respirares,

bate firme nos medos, nas dúvidas, nos recuos,

não perdoa enganos nem o destampar da fé.

Faz soluçar desejos, desanuvia cheiros,

estremece meus guizos sem dó,

fazendo meus sonhos rodopiarem numa folia maluca.

Meu amor nunca vira carniça, nem sobra, nem sombra,

vai se esgueirando pelas ribanceiras da dor

e então, num certo momento, estanca.

Empedra meu sangue e dilacera cada vão da alma,

aquela alma que um dia mantive cativa dentro de mim,

pra virar criança de novo e desandar a brincar, a brincar, a brincar.

Daí, sem avisar, se abate num canto e se cala,

fica numa quietude que até o vento estranha,

então morre, vagarosamente, docemente, absurdamente.

Solenemente feliz.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 11/02/2018
Reeditado em 12/02/2018
Código do texto: T6251292
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