Pela sombra...
 
Estávamos no auge do verão de janeiro. Era o início de uma manhã de sol relativamente branda e eu estava resolvendo diversos assuntos no centro da cidade. Havia saído a pé, bem cedo. Mas o tempo passou e já era mais de 11h quando percebi que o nosso astro-rei já se encontrava bem no centro do céu. Decidi, assim mesmo, retornar caminhando para casa.
Tão logo eu comecei a minha volta, percebi um erro de cálculo. Aquele era o pior horário para esta empreitada, pois não havia muita projeção de sombras nas calçadas. Tirando uma marquise ou outra do centro, o sol aparecia inteiro e majestoso em todos os lugares. E quente como nunca. Pensei em tomar um ônibus, mas acabei por aceitar o desafio de encarar aquele clarão. Faltavam uns 20 minutos de caminhada. Fui buscando as sombras possíveis, mas não era fácil. Resolvi, então, clamar pacientemente ao bom Deus para que trouxesse alguma nuvem para abrandar a ação daquela imponente coroa de luz. E não é que apareceu uma? Foi por poucos minutos, mas ela escondeu o poderoso e trouxe um alívio enorme ao meu corpo.
Mas logo à frente, quando eu me aproximava de uma rua desprovida de qualquer sombra, eis que aquela esfera gigante e amarela resplandeceu de novo e desta vez, parecia ainda mais quente. Pensei bem e parei de reclamar. Imaginei que, antes de estar me flagelando com seu calor, esta garbosa estrela estaria sendo importante para infinitas vidas e situações no nosso planeta e tinha mais era que brilhar muito. Eu, por causa de minutos a mais ou a menos, chegaria em casa de um jeito ou de outro e, com certeza, inteiro, apesar de um pouco mais moreno.
Assim, mais tolerante, entrei num trecho terrível do percurso, onde era possível esconder-me muito pouco. Mas não é que, coincidentemente, onde eu ficava desamparado, as nuvens compareciam e me aliviavam do calor? Fiquei maravilhado com aquilo! Quando eu dispunha de alguma sombra ele aparecia, quando não, as nuvens o encobriam. Até que cheguei em casa tranquilo e sem qualquer fadiga.
Por óbvio, comecei a meditar sobre tal “providência divina”. Não demorou muito para eu compreender que a partir do momento em que me desapeguei da busca por alívio, mas, ao mesmo tempo, reconheci a importância dessa majestosa estrela, eu fui cuidadosamente atendido nos meus dissabores solares. O bom Deus decidiu me ajudar pela minha compreensão e disposição em aceitar e respeitar a finalidade das coisas criadas por Ele. Não tive nenhuma dúvida quanto a isto.

 
 
Luciano Abreu
Enviado por Luciano Abreu em 16/02/2018
Reeditado em 19/02/2018
Código do texto: T6255753
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