CONFISSÕES DE UM EX-BANDIDO

Já fui ladrão. Roubei o tempo de algumas pessoas e o sonho de outras com promessas que sabia que não iria cumprir. Me apropriei indebitamente de corações que por direito não deveriam ser meus. Afanei riquezas como a fé e o perdão, surrupiando delas seus mais íntimos valores. Assaltei sentimentos de gente que acreditou em mim e não soube honrar sua confiança. Fui um larápio de fato por usurpar lugares dos quais nem deveria chegar perto, como aqueles em que as pessoas repousam seus sentimentos mais raros. Fugi da lei dos homens não admitindo que infringia o código penal da paixão, não sabendo corresponder a todo amor que em mim era inundado. Roubei almas só pra tirar delas tesouros de valor inestimável, como a compaixão. Roubei tudo isso amparado na inocência que minha falta de maturidade fazia valer. Fui um ladrão incauto, por vezes à revelia do que queria ou acreditava, por vezes levado por ondas que nem sabia direito a quem servia. Fui um traficante de ilusões e de vontades mal explicadas. Todos esses crimes se prescreveram quando os cabelos brancos invadiram minha cabeça sem pedir licença e fizeram nela seu novo lar. Agora com os ossos menos birrentos, menos inquietos, posso abençoar quem cruzar meu caminho com coisas que só lhes farão bem, só lhes deixarão feliz, só fará crescer um tiquinho que seja. Cumpri, até o último dia, minha pena pelas coisas erradas feitas. Recebi o alvará de soltura com a certeza de que aprendi a lição. Agora, só alegrias. Só coisas boas. Só ser e fazer feliz. E nada mais.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 18/02/2018
Reeditado em 18/02/2018
Código do texto: T6257017
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