Pânico no Metrô!

Pânico no metrô

João olhou a hora no celular que marcava 18:15. Esperava o metrô e seu destino era a Estação das Flores. Ao entrar no vagão, tentou se equilibrar, segurando o suporte acima da sua cabeça. Estava muito cansado e queria chegar logo em casa, pois como de costume, o seu trabalho como operador de caixa, era exaustivo.

Olhou o visor e o leu: Estação Bandeira e pensou que ainda faltava 7 estações para chegar à sua. De repente, observou um homem que gritava alto:

— Eu não estou ouvindo nada, o que está havendo? Não sou surdo. O que está acontecendo? Aos berros, segurou o ombro de outro homem e perguntou se ele estava lhe escutando.

— Calma, senhor, estou lhe escutando. O senhor está gritando, calma. Você está se sentindo bem?

— O que houve comigo… meu Deus eu estou surdo, não ouço nada. Pegou uma moça e sacudiu o ombro dela e fez o mesmo. A moça disse:

— Calma Senhor, o senhor está nervoso…

— Não estou lhe ouvindo, falou gritando…

— A moça fez gestos com as mãos, para que ele se acalmasse e pediu silêncio com o dedo sob os lábios e ele calou-se muito confuso, com olhar de espanto!

Não demorou muito, outro homem começou a expressar o mesmo problema, e outro depois a mulher que havia acalmado o anterior.

— Que está acontecendo, também não estou ouvindo nada, falou um estudante.

Era uma situação intrigante, misteriosa e quando percebi não ouvia mais os gritos deles de desespero, cada um querendo entender à sua moda o que estava acontecendo naquele metrô.

— Procurei ficar calmo… calmo e calmo.

— Foi quando o letreiro mostrou: Estação dos Grilos e assim a porta abriu-se. Num pulo, todos, menos eu, desceram desesperados do metrô, tamanho a agonia, antes de chegar em suas estações.

Procurei ficar calmo e como queria chegar logo em casa continuei no metrô. Eu com a minha estranha surdez! E assim, pessoas entraram, outras pessoas desceram. Notei que elas estava normais e que só eu, não as escutava, apenas via as pessoas com expressões labiais em alguns colóquios.

Passava outra estação e pensara, o que poderia ter causado aquela surdez coletiva, abrupta e estranha e se aqueles ao descerem do metrô teriam ficado bons dos ouvidos…. E pensei mais: que fenômeno foi esse?! Tudo era tão surreal! Nunca tivera problema nenhum com minha audição.

No entra e sai das pessoas, o letreiro mostrou: Estação das Flores, meu destino. Quando a porta abriu, saí, quase tropecei e para minha surpresa a audição voltara normalmente, ouvia pessoas conversando, anúncios. O barulho do próprio metrô, nunca fiquei tão feliz de ouvir o barulho da catraca, ao sair da estação. Logo a minha frente, vi um homem sentado no banco da praça e sentei ao seu lado e puxei conversa. Perguntei seu nome, como ele estava se sentindo naquele momento e fiquei ouvindo ele durante mais de uma hora. Quando enfim me despedi e continuando meu trajeto familiar. Teria que andar mais três quadras até chegar em casa.

Ao chegar em frente a minha casa, percebi que a minha vizinha do lado, que já era de uma idade avançada, sempre puxava conversa comigo quando por lá passava e eu a dispensava, e assim quando de costume, novamente falou:

— Olá, João, chegou tarde hoje, como estão as coisas?

— Tudo bem e a senhora

— Ah, meu filho, ando com muitas dores mal consigo andar. Também já estou velha e vou fazer 82

Ela me convidou para sentar, havia outra cadeira para surpresa dela, sentei-me. A ouvi atentamente! E assim D. Almerinda contar sua estória de vida desde a sua infância, adolescência, vida adulta, filhos, netos. Eu estava tão feliz de ouví-la que não me dei conta que já era mais de nove horas. Então foi difícil me despedir. Ela olhou para mim e falou:

— Filho, você me desculpe se eu acabei falando demais, tá? Você se cansou de me ouvir, desculpa.

— Não, D. Almerinda, não cansei. Já se faz tarde e é preciso entra. Não me cansei, pelo contrário, sua voz é música para meus ouvidos!

Ao chegar em casa, sua esposa preocupada e brava pela demora e pelo fato de não ter mandado nem um whatsapp para lhe tranquilizar pela sua demora.

— Amor, beijou-a demoradamente, chamou-a para conversar…queria ouvi-la, raramente fazia isso e muitas vezes a deixara falando sozinha. A mulher estranhou, mas tudo bem. Falou, falou. Ele a ouviu atentamente.parecia devorar as palavras dela com os olhos.

Então aquele episódio do metrô o fez refletir sobre sua postura diante da vida. De como não escutava as pessoas, nem as que mais amava. Que o fenômeno foi uma grande lição para seus ouvidos ficarem mais atentos e com certeza estaria disponível para silenciar mais e escutar as pessoas.

Deduziu que os seus ouvidos eram dois instrumentos valiosos que precisava valorizar sempre.

Reijane Brasileiro
Enviado por Reijane Brasileiro em 21/02/2018
Reeditado em 29/08/2018
Código do texto: T6260605
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