Crônica: o outro lado do rio.

Todos falavam, se engrandeciam em dizer que no outro lado do rio as pessoas eram mais felizes. Os observadores assistiam da margem do rio as travessias falhas, a grande maioria se afogava antes mesmo de chegar na metade do grande rio. Os menos informados apenas falavam das riquezas que existia do outro lado, procurando sua tranquilidade nos bens materiais que poderiam ganhar.

As pessoas pareciam não se importar mais com nada, só sabiam falar da vida fácil que poderiam ter do outro lado. As crianças pulavas, gritavam de felicidade ao escutar dos pais tudo que ganhariam do outro lado. As famílias falavam umas para as outras sobre seus conhecidos que já haviam feito a travessia, outras choravam por saber que nunca mais veriam seus familiares depois de uma travessia falha.

Era intrigante ver a euforia, o entusiasmo baseado em palavras tão pequenas. O simples fato de dar a essas pessoas uma possibilidade de uma vida fácil e feliz já era o suficiente para elas, já bastava. Aos poucos foram abandonado suas vidas, deixando tudo de lado, para seguir as palavras que tinham sido jogadas ao vento. Pessoas que se diziam cansadas de tentar e não conseguir, cansadas da própria vida.

Poucos conseguiram atravessar, a grade maioria ficou para trás, levadas pela correnteza. Os que conseguiram sofriam todos os dias ao olhar para o rio e ver todas aquelas pessoas atrás de algo que não existia. Pessoas morrendo pela falta de informação, pela ignorância das palavras de alguns.

Do outro lado do rio existia muita riqueza, muita felicidade comprada, mas não era para todos. Todos que atravessaram ainda eram pessoas sem oportunidade, que acreditaram no que os fizeram acreditar, seguiram o caminho que foi traçado para eles. O outro lado era como o nosso lado, alguns tinham muito, enquanto nós não tínhamos nada. A realidade sempre é diferente para quem está vendo e para quem está vivendo. Nem sempre a grama do vizinho é melhor do que a nossa, quem sabe ele apenas possuí condições de pagar várias pessoas para fazer o serviço que nós fazemos sozinhos.

Julio Venori

Julio V Nichtewitz
Enviado por Julio V Nichtewitz em 21/02/2018
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