DESESPERANÇA

Hoje me vi no espelho do mundo, olhei o que seria meu futuro, vi o flagelo, a tortura, vi a porta dos sonhos fechada, trancada, olhei a janela da esperança igualmente cerrada. Senti como é a impotência do homem perante a fúria da natureza, senti o lanho em minha cara desferido pelo chicote da ingratidão.

Hoje me senti desvalido. Hoje minha lágrima era chuva ácida que corrói, a minha alegria é fictícia, o meu riso ilusão.

Hoje sou caricatura no reflexo que se estampa, o coração sangra e esse sangue não seca, não coagula, permanece.

O tempo pesa-me, verga esse corpo cansado, que busca entender nos atos o significado, por mais que suplique, por mais que peça, nada vem, a escuridão se faz na primavera. Acho que estão ocupados demais.

Rasgue então, o peito desse pai que vive a espera do milagre, sufoque as convicções, mas dê alento e água pura à rês desgarrada.

28/09/15

ANDRADE JORGE