A EPÍSTOLA DE SÃO TIAGO.

“Não queirais, irmãos meus, fazermos muitos de vós mestres, sabendo que vos expondes a um juízo mais severo. Com efeito, quando pomos o freio na boca dos cavalos, para que nos obedeçam, também governamos todo o seu corpo. Vejam as naus, ainda que sejam grandes, e se achem agitadas com ventos impetuosos, com um pequeno leme se voltam para onde quiser o impulso dos que a governam. Assim também a língua, um pequeno membro, mas gloria-se de grandes coisas. Quem é entre vós sábio e inteligente? Mostre mediante uma boa vida as suas obras feitas com mansidão própria da sabedoria. Efetivamente o que é a vossa vida? É um vapor que aparece por instantes, e que em seguida se desvanece. Se formos vivos faremos esta ou aquela coisa. Mas vós pelo contrário, elevai-vos na vossa soberba. Toda presunção tal como está é má. Aquele, pois, que conhece o bem que deve fazer, e não faz, peca.”

O primeiro bem que se deve fazer e observar, “amar ao próximo como a si mesmo”, implica em reconhecer a liberdade do próximo.

Essa submissão do ego à realidade de cada um, reporta a luz de Cristo reveladora, ao mesmo tempo que arcabouço da saciedade, da suficiência de nós mesmos, que reconhece o limite de seu limite, sem lançar flechas para destinos que a inteligência não alcança.

É nesse anfiteatro de dimensões angustiantes que devemos aceitar as barreiras do cérebro, que intimidam os neurônios a dizer e procurar algo mais. É nesse encontro da angústia com a barreira do saber que se fundem a fé e a lógica.

Por isso São Tiago prega o freio das vontades inconsequentes que nadam no mar revolto do desconhecido para morrer na praia da desilusão. É preciso ser socrático nessa dialética desavinda que transita da vontade à desrazão, para saber que nada sabemos e nunca saberemos e, só pela fé, ainda que aliada ao tomismo de São Tomás, que explica o mundo e suas causas pelo primeiro motor, fenômeno da causalidade, é que ao nos reduzirmos ao nosso verdadeiro tamanho, pequeníssima estatura pela mágica espiritual da fé, estaremos aproximados da grandiosidade do “Actus Purus”, Deus.

Submetermo-nos aos ensinamentos de São Tiago é nada mais que abrir os verdadeiros caminhos “se algum de vós se extraviar da verdade”, como aponta no epílogo de sua carta, porque em sua epístola, tratando do sofrimento, manda que se peça paciência em meio a tribulações, já que a paciência, segundo afirma, “faz obras perfeitas”.

Sigamos Santiago, com freios onde sejam necessários colocar, e paciência para chegar-se a uma obra perfeita, a construção de nosso caminho inclinado para o bem, sempre e primeiramente respeitando a liberdade das pessoas, em não serem presas pelo que pensam, em poderem transitarem livremente, sem intimidações.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 24/02/2018
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