ENTÃO TROQUEI DE OLHOS
Pedi pra trocarem meus olhos e trocaram.
Os antigos, já untados de tantos medos e vícios,
não prestavam mais.
Aqueles antigos, já cansados pelas rasteiras da vida,
podiam aposentar de uma vez por todas.
Os novos, zero-bala, de sangue rápido e suor cheiroso,
chegaram com tudo.
Assim aqueles horizontes de que não conseguia chegar perto,
vieram a granel, e como vieram.
Percebi o quanto deixei de avistar por conta
daqueles olhos mancos, teimosos, enraivados.
Eram olhos com viseira, que filtravam o belo,
o gostoso, o nutritivo, dando passagem pras dúvidas,
pras ciladas, pros becos sem saída.
Foram olhos pobres, encardidos, enferrujados
pelos escorregões que tanto me untaram dia após dia.
Mas agora, armado com olhos novos,
o chão será menos árido, menos raivoso, menos traidor.
Agora meus ventos ficarão a favor, o gosto deixará
de ser atroz e o que parecia longe já chega junto.
Ainda bem que tive tempo hábil pra trocar
de olhos e de tudo que os cercava.
Ainda bem que fui capaz de reconhecer que, com olhos
velhos, cariados, desengonçados, vencidos,
puídos, cabisbaixos e reclusos,
deixaria passar batido alguns encantos
que fariam minha vida reluzir, tremular no mastro.
Bem-vindo olhos novos!
Vocês vieram na hora mais acertada,
no passo mais firme,
no meu tempo mais bendito.
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