ENTÃO TROQUEI DE OLHOS

Pedi pra trocarem meus olhos e trocaram.

Os antigos, já untados de tantos medos e vícios,

não prestavam mais.

Aqueles antigos, já cansados pelas rasteiras da vida,

podiam aposentar de uma vez por todas.

Os novos, zero-bala, de sangue rápido e suor cheiroso,

chegaram com tudo.

Assim aqueles horizontes de que não conseguia chegar perto,

vieram a granel, e como vieram.

Percebi o quanto deixei de avistar por conta

daqueles olhos mancos, teimosos, enraivados.

Eram olhos com viseira, que filtravam o belo,

o gostoso, o nutritivo, dando passagem pras dúvidas,

pras ciladas, pros becos sem saída.

Foram olhos pobres, encardidos, enferrujados

pelos escorregões que tanto me untaram dia após dia.

Mas agora, armado com olhos novos,

o chão será menos árido, menos raivoso, menos traidor.

Agora meus ventos ficarão a favor, o gosto deixará

de ser atroz e o que parecia longe já chega junto.

Ainda bem que tive tempo hábil pra trocar

de olhos e de tudo que os cercava.

Ainda bem que fui capaz de reconhecer que, com olhos

velhos, cariados, desengonçados, vencidos,

puídos, cabisbaixos e reclusos,

deixaria passar batido alguns encantos

que fariam minha vida reluzir, tremular no mastro.

Bem-vindo olhos novos!

Vocês vieram na hora mais acertada,

no passo mais firme,

no meu tempo mais bendito.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 05/03/2018
Código do texto: T6271068
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