MULHER, MULHER
Nair Lúcia de Britto


 
Em 1760 o escritor iluminista, francês Denis Diderot (Iluminismo) escreveu um romance intitulado A Religiosa. A personagem foi baseada numa pessoa da vida real: Margueritte
Delamarre, que foi obrigada a ir para um convento desde os três anos de idade.

Quando tornou-se adulta, entrou na Justiça, inconformada com seu confinamento; mas em 1752 perdeu o processo e ficou enclausurada até a morte.

A publicação da obra A Religiosa, inspirado nessa realidade triste, só foi permitida em 1766 (36 anos, após); depois do falecimento do autor.


Segundo pesquisa, no século XIII a vida no convento tinha uma aparência religiosa, mas os fatos eram outros. Famílias confinavam suas filhas solteiras; e as viúvas também optavam pela clausura, por se sentirem inúteis diante da sociedade.

As madres superioras eram escolhidas, segundo seu título de nobreza e não   por vocação religiosa. Os conventos eram investimentos denominados “benefícios”.


Tempos depois, o cineasta francês Jacques Rivette transformou o livro
em filme que também foi censurado pelo governo e religiosos daquela época.

Apesar da censura, o filme foi exibido no Festival de Cannes, em 1966 e acabou por se tornar um grande sucesso. Anna Karina foi a atriz que interpretou Suzanne, a religiosa.


No tema do filme, ela era uma jovem de vinte anos virtuosa, crente em Deus, mas era uma pessoa que queria viver a vida plenamente e não tinha nenhuma vocação para ser freira. Entretanto por não ter nenhum pretendente que quisesse casar com ela, os pais a obrigaram a ir para um convento.

Lá, ela encontra madres superioras de boa e má índoles. As últimas a fazem viver um verdadeiro martírio, tentando corrompê-la.

Suzanne faz de tudo para fugir do seu calvário; até o dia em que pula de uma janela e deixa de existir.

Até algumas décadas atrás (por volta de 1960) era muito feio uma moça não se casar. Aquela que não se casasse até os 22 anos de idade
já logo diziam: “Hi!, ficou pra titia...”. Era ridicularizada e menosprezada  pelas línguas viperinas.  

Os pais empenhavam-se para que suas filhas se casassem e procuravam torná-la um modelo de dona-de-casa. As próprias moças tinham medo de serem rejeitadas pelos rapazes e sofrerem com as anedotas maldosas da sociedade preconceituosa.

O máximo que elas podiam aspirar, além de ser uma boa esposa, era ser professora. Por conta dessa pressão da sociedade é que se realizaram muitos casamentos infelizes, para o resto da vida.


Muitas mudanças sociais ocorreram de lá para cá. Algumas dessas mudanças foram maravilhosas; outras nem tanto. Hoje a mulher estuda, trabalha, tem sua profissão, sua personalidade e a maioria continua sendo uma esposa e mãe dedicada. 

Hoje a mulher não é mais obrigada a se casar para não ter que sofrer as humilhações sociais. Conquistou sua liberdade de escolha, de se autoafirmar na profissão, de evoluir, de transpor quaisquer obstáculos e ser feliz  casada, descasada ou solteira.

Mas o fantasma do preconceito de que a mulher precisa casar ainda paira. Como a idéia de que ter um homem a seu lado é sinal de status.

Que mulher não gostaria de ser uma Cinderela? Sim, mas desde que o Príncipe Encantado não seja um Lobo mau vestido com pele de cordeiro...


 

 
Nair Lúcia de Britto
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 06/03/2018
Código do texto: T6272402
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