A pessoa que eu era

A pessoa que eu era com treze anos imaginava um futuro bastante diferente para minha versão atual. Mas ela não tinha sofrido nenhum choque de realidade ainda. Tudo era fácil. Alcançável. Tinha todo o tempo que quisesse. Havia tantos anos pela frente! Pra que pensar em construir o futuro se estava tudo tão cômodo e confortável? Pra que se preocupar antes da hora? Minha versão atual, quando volta no tempo, se arrepende de não ter começado antes, e se lamenta quando pensa onde já poderia ter chegado.

Onde poderia estar agora. Minha versão atual já queria ter vivido muitas coisas das quais ainda não chegou nem perto. Já queria ter conhecido vários lugares com os quais, nesse momento, pode apenas sonhar. Minha versão atual sente que perdeu muito tempo, e não gosta de saber que ele não pode ser recuperado. A vida mudou muito e, ao mesmo tempo, parece ter mudado tão pouco. Eu cresci tanto e, ao mesmo tempo, ainda não aprendi a vencer meus medos. Não durmo mais com o abajur ligado, mas ainda abraço uma boneca de pano todas as noites. Ainda fico paranóica depois de um pesadelo.

Uma parte de mim ainda queria mais que tudo que tivesse nascido em Los Angeles, que vivesse sob os holofotes, que todo o mundo soubesse meu nome. Essa fantasia, creio eu, nunca vou abandonar. Minha versão atual, no entanto, está quase sete anos à frente. Quase sete anos mais velha. Quase sete anos mais madura -talvez nem tanto assim-.

Hoje, eu sei que a frase batida, clichê e repetida milhões de vezes, a famosa “nada é por acaso” faz sentido. Hoje, eu sei que tudo aconteceu dessa forma porque era pra ser exatamente assim. Essa é a melhor forma que poderia acontecer para mim, e, mesmo que não entenda nesse momento, algum dia, vou compreender o porquê.

Milena Farias
Enviado por Milena Farias em 16/03/2018
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